A culpa é do mosquito, não da Joana

A história do resgate da cadelinha Joana é muito mais do que uma história triste de abandono que, infelizmente, vemos todos os dias nas redes sociais. O caso serve, principalmente, para fomentar as discussões a cerca de um dos assuntos que está em pauta na saúde pública e no mundo animal: a Leishmaniose Visceral Canina. 

Mas, antes de saber o que aconteceu com a Joana, saiba por que o seu caso se tornou importante: A polêmica começou depois do registro das mortes de duas pessoas por causa da doença, na região do Morro Santana e Jardim, e da contratação de “serviços de eutanásia de até 300 caninos soropositivos para Leishmaniose Visceral Canina”, por parte da Secretaria da Saúde de Porto Alegre, como forma de barrar o crescimento de uma epidemia. Entretanto, a  Secretaria Municipal dos Direitos Animais (Seda) alega que os testes feitos para detectar a doença são superficiais e passíveis de erro. 

Devido à mobilização de protetores e ativistas que protestaram em frente à clínica veterinária onde seria realizado o procedimento, e de uma ação na Justiça protocolada pela deputada estadual Regina Becker Fortunati (Rede), as eutanásias acabaram sendo suspensas temporariamente. Um plano deverá ser apresentado pelas instituições à Secretaria Municipal de Saúde que submeterá ao Ministério da Saúde para análise.

Mas, e a Joana? A doença pode ser curada em humanos, mas não em animais, que conseguem apenas tratar a infecção. Mesmo assim, se medicados, podem viver normalmente e sem dores. E este é o caso dela.

Quando foi resgatada em Porto Alegre, em janeiro deste ano, pelos protetores Kathlen Vargas e Alex Dias, bastante delibitada, a cadelinha, que já é idosa, passou uma série de exames que constararam a doença. O veterinário Tiago Conceição, que tem uma clínica em Viamão, ficou responsável pelo tratamento.

Hoje, apesar de todo o sofrimento por ter vivido anos nas ruas, Joana está recebendo muito amor e cuidados. Uma outra protetora, Adriana Tavares Medeiros, é quem hoje cuida dela.

— Logo que a Kathlen e o Alex resgataram ela, em um dia que iria cair muita chuva, me chamaram e pediram um lar temporário. Ela ficou apenas dois dias com eles e veio para cá onde está até hoje. No momento ela faz uso de uma medicação que toma de 12 em 12 horas. Ela já está muito melhor, já sabe até fazer "arte". Realmente é uma vitória, já que no início não sabíamos se ela iria sobreviver, pois além disso tudo ela ainda tinha uma anemia muito severa, que estamos tratando ainda — conta Adriana.

Para contar sobre como é possível vencer a doença, ela e os responsáveis pelos resgate criaram a página Diário da Joana, no Facebook. Lá, além de todo o passo a passo do tratamento, o objetivo é a informação correta para as pessoas.

— O cão não é o culpado, mas muitas pessoas não entendem isso. Nós queremos muito divulgar a nossa página, alcançar um número bom de curtidas e levar a história até o prefeito de Porto Alegre. Nós somos contra a morte dos cães doentes — diz.

 

Joana no dia do resgate, quando chegou em casa e finalmente recebe uma cama quentinha

 

Sobre a doença

A leishmaniose visceral é uma doença causada pelo protozoário Leishmania infantum, e é transmitida pela picada do mosquito-palha. Embora a doença atinja especialmente cães, seres humanos também podem ser infectados.

A transmissão do parasita ocorre pela picada da fêmea do mosquito-palha. Não há vacina contra leishmaniose visceral.

Se não for tratada cedo nos humanos, o índice de morte chega a 95%. É preciso ficar alerta aos sintomas da doença: febre, fraqueza, perda de apetite, diarréia, emagrecimento e palidez.

Em Porto Alegre, o Morro do Osso é a área considerada de risco para a doença. Foi onde as duas pessoas morreram, uma em setembro do ano passado e outra em fevereiro deste ano.

O mosquito que transmite a leishmaniose nem precisa de água para se reproduzir. Basta um lugar sujo, com bastante lixo, restos de árvore e matéria orgânica em decomposição. Terrenos baldios também são foco para reprodução.

 

Foto tirada por Adriana nesta terça-feira (16), que mostra Joana já com pêlos e mais saudável

 

ATUALIZAÇÃO: Morreu nesta tarde de terça-feira (16) a terceira vítima de leishmaniose em Porto Alegre, após cinco dias internada em estado grave no Hospital Nossa Senhora da Conceição.

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