A Velha Capital e suas velhas roupas – Oração ao Tempo

Igreja Matriz

Um, cem, 279, 280… Números e suas variadas expressões. Dias, anos e seus recortes de tempo.
Mas o tempo passa em Viamão?

Na música Oração ao Tempo, Caetano Veloso agradece ao “compositor de destinos”, o “tambor de todos os ritmos” pelas mudanças. É uma saudação aos marcos temporais, às transições das pessoas e de suas atitudes.
Repito: E aqui?

Aqui na Velha Capital, já que não é possível negar a continuidade cronológica, digo que tempo não tem a mesma velocidade do que em outros lugares. Fato é que mais um ano se passa, e cá estou, lamentando e cobrando as mesmas coisas do jazido 2020.
E será que a culpa é (apenas) minha?

Na sequência estará a reprodução integral da coluna que escrevi no aniversário de 279 anos do município. Após a leitura, avaliem o que mudou de lá para cá. Sim, a Terra seguiu girando (Pasmem, ela não é plana!), contudo, certos hábitos ainda teimam em resistir.

O planeta se moveu em torno do Sol 280 vezes desde a fundação de Viamão, só que esta parece prostrada. Não me refiro a gestores políticos de nenhuma ordem, a mudança que a cidade precisa é cultural, é social, é de mentalidade.
E tal mudança precisa começar pelo povo.

É lixo na rua, é festa clandestina, é negacionista de vacina, é demonstração de egoísmo para todo o lado. Queria eu exaltar apenas coisas boas, mas não consigo ver os problemas estruturais sem falar deles.

 

‘’

…Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido…

‘’

 

Que ano que vem eu não precise falar das velhas roupas que precisamos deixar.

 

‘’

… E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo…

‘’

 

Acusem a mim pelas queixas repetidas, batidas…
mas será que são velhas mesmo?

Deixo vocês com a crônica dos 279 anos, que, de tão atual, vale para os 280. Espero que não seja mais necessária em 2022.

Ah… e um feliz aniversário, Viamão!

 

“”

 

Aniversário de Viamão: o amor pela cidade não pode ter dono ou ser ideologizado

O jeito que encontro para dizer que tenho carinho e olhar além do jornalístico por Viamão e seu povo é afirmando que o município precisa atacar seus principais problemas: desinteresse coletivo e egoísmo. No dia em que a cidade completa 279 anos de fundação e o DV chega a 14 de vida, este artigo abre as comemorações pretendidas pelo Diário para essa terra e sua gente.

É de forma controversa que presto homenagem, com a pretensa autoridade de quem vem de fora e entende que uma cidade com os potenciais locais não pode ser freada por estes comportamentos tacanhos. Explico:
Há os que se investem do amor por Viamão para rejeitar as transformações necessárias. Tal como bolsonaristas e fundamentalistas religiosos que se apropriam de símbolos nacionais e do nome de Deus, parte dos que se dizem viamonenses defendem que aqui as coisas são diferentes, que não podem ser comparadas com a realidade de municípios vizinhos. Pior, muitos desses acham que pensar a cidade é direito exclusivo.

Discordo. As mentes locais dominantes, em boa parte, agem assim para manter o status quo e fazer das suas verdades e necessidades o caminho hegemônico. Não desejo generalizar, mas fato é que o “estado das coisas” na Velha Capital favorece a poucos.

Qualquer um de fora da "massa crítica viamonense" tem sua legitimidade questionada. Em minhas duas passagens pelo DV, não foram poucas as vezes em que fui atacado não pelas ideias, mas pelo pecado mortal de “não ser de Viamão”. Os mais sutis me ofertam “conselhos” de que preciso me conectar ao pensamento local.

Os exemplos são muitos: chega um secretário novo para a Administração municipal, e a primeira coisa que fazem é questionar se ele é “nativo”.  É uma ode ao diferente que retarda o tão discursado progressismo. Para desmerecer, basta dizer “esse não é daqui”.

Ao buscar as origens de Viamão, encontrei expressões como “terra de passagem”, de migração. Termos óbvios para qualquer pedaço de chão em um continente ocupado e colonizado por europeus, mas que parecem ignorados pelo “viamonense raiz”. Quando a espada, a pólvora e a doutrinação religiosa cederam, estas terras passaram a receber homens e mulheres de diferentes raças e credos em busca de vidas novas. Uns duzentos anos após, o êxodo rural e o baixo preço da terra na área urbana geraram a onda migratória que fez desta uma das cidades mais acolhedoras do Estado.

Percebem a ironia?

Por qual motivo esse povo humilde que escolheu viver aqui aceita esse comportamento segregador? Minha tese é de que falta identidade. O morador de Viamão é tão excluído dos processos, das coisas da cidade, que não cria a sensação de pertencimento e deixa as decisões para os “que se consideram daqui”. Ou seja, o desinteresse realimenta a máquina que exclui a coletividade.

Essa individualidade transforma a cidade numa panela de caranguejos onde nada acontece. Conhecem a metáfora? Deixe um recipiente cheio desses crustáceos vivos e mesmo sem a tampa, nenhum fugirá. “Egoístas que são”, um puxará o outro para baixo e todos seguirão estagnados no mesmo lugar.

Diário de Viamão, fundado em um 14 de setembro para homenagear a cidade – inclusive ostentando seu nome – cumpre papel social e jornalístico ao promover crítica e debate, ao cobrar o desenvolvimento social e econômico, ao exigir respeito ao cidadão. Esta terra é prodiga em oportunidades, basta comparar: quantas mais do entorno têm em seus limites territoriais meios para gerar riquezas através da indústria, do comércio, da agricultura, da pecuária, da pesca, do turismo e de seus recursos minerais? Temos chão e gente para tanto. Passou da hora de fazermos acontecer.

Feliz aniversário, Viamão. Que o amor e a sensação de pertencimento sejam cada vez mais coletividade e menos "propriedade ideológica".
Vida longa e dias melhores a todos!

‘’

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Compartilhe esta notícia:

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade

Facebook