Faço a leitura dos meus dias, alguns são chatos, outros são ruins e outros são alegres. Acredito em um progresso que não é linear, foi isso que eu li em um lugar algum dia. Embora as coisas do cotidiano sejam pouco brilhantes, ali há vida, ali há motivação. Nas pessoas que amamos, nas nossas paixões, em um elogio qualquer, direcionado a ti, em uma segunda-feira qualquer.
Quando decidi não mais escrever, porque me faltava inspiração, porque me faltava sonho, a necessidade de desaguar me atravessou. De que maneira você tem desaguado? Dor, medo, felicidade, amor. Tantas coisas que sentimos e não manifestamos, às vezes por não encontrar as palavras certas, e quem detém esse conhecimento tão extenso de palavras? Ninguém. Somente o nosso coração guarda todos esses segredos que procuramos aqui e ali.
Nossos passos tem nos levado adiante, seguindo esse fluxo intenso de acontecimentos, e por vezes nem paramos para respirar. Eu quero respirar, e eu respiro a minha escrita, a minha arte, os meus amores e os meus afetos. Quando quero respirar, vou para fora e vejo tudo o que existe, depois, olho para dentro e encontro centenas de respostas. E mais um milhão de perguntas.
O meu desejo é incentivar a introspecção, porque só com ela somos capazes de enxergar a potência que existe dentro de nós. O meu desejo é bagunçar as estruturas, porque só assim somos capazes de ansiar pela arrumação, pela estabilidade. Para depois encontrar o caos novamente, e assim sucessivamente.
Não tenho nenhum tema específico para escrever, escrevo o que me vem, e o que vem é muito. E o que todos nós sentimos é muito, mesmo que nem sempre saibamos tocar e acolher essa vastidão de coisas que permeia nossos pensamentos. Deliramos, ficamos ansiosos com essa bagagem pesada e intensa, porque somos tudo e mais um pouco. Todos nós.
Não me contento com pouco, mas não romantizo esse sentimento. O sentir é bonito e também doloroso, porque a faca é perigosa e a espada atravessa a carne. Embora eu goste de estar aqui, me exige coragem. Então: sim, me sinto corajosa!
E quem não é?Estar vivo já denota tanta coragem! Existir é saber que o controle é ilusório, que as coisas passam, que o amor pode esfriar e ter a certeza de que outro chegará. Que coragem para enfrentar todas essas coisas!
A vida não espera, nem mesmo essa reflexão, porque enquanto me deleito, o mundo gira e não para. Será que perdi alguma coisa nesse meio tempo? Creio que não, porque todo tempo que gasto comigo mesma é mísero, ainda não me compreendo e não me desespero, é assim mesmo.
Esse ano eu quero estar presente, porque sei que a vida passa muito rápido. Ainda não sinto medo da morte, sou muito jovem para isso. Ainda não quero que as coisas passem rápido, e tento não pensar muito no futuro(é difícil). Escrevo para matar essa sede, para aconchegar minhas angústias, para te acolher nessas palavras. Escrevo para manifestar minha empatia, para te mostrar que não estás sozinho(a) nesses teus passos cambaleantes, não existe certo e errado. O certo é que todos estamos tentando, e a tentativa é mérito daqueles que não desistem. E desistir às vezes também é válido, não é?
Quantas coragens se escondem por trás das desistências e dos próximos passos?Só a gente sabe, tem coisa que só a gente sabe. E mesmo escrevendo aqui, não posso traduzir tudo o que me atravessa, porque só eu posso carregar a minha bagagem. Ninguém mais. Não é maravilhoso?
Com amor, Alice.