Alice Chala | Catarse

Com algum custo, deixei que as coisas se acalmassem, para que eu pudesse recomeçar. Agora no silêncio, vejo quantas montanhas movimentei, e quantos desertos enfrentei. Em um processo lento, com dificuldade de enxergar o final da estrada, passei a observar o modo como a paisagem se desenvolve e talvez, mas só talvez, encontrando assim um sentido no ato de caminhar sem pretensão.

Embora as pernas estejam sempre em direção ao que não posso consertar, os olhos não são mais os mesmos e nessa contradição, encontro a vitória. A vitória de não ser mais quem já fui um dia, e é preciso celebrar os danos, às oportunidades que construímos através dos danos. Para não falar do medo do futuro, buscando uma afirmação dócil perscrutando um passado, um presente desenhado bem aqui e agora. E dentro disso, é preciso respirar fundo. Compreender os pormenores, como quem investiga o óbvio e mesmo assim nada descobre…

Entre um quadro e outro, significando novos universos, quem dirá que é errado pensar sozinha, pensar demais? Quem dirá que a saudade é fugaz, e não eterna? Quem pode julgar algo que não se explica, mas se sente, com o coração. E lá no fundo do peito, se expande como uma dor, numa espécie de catarse que não cessa, apenas abre-se mais e mais. Várias cores, um abstrato singular e inconfundível.

O que assombra é o mesmo que faz feliz, e nada disso pode ser mudado, porque é o que é. Não fugir é também uma forma de manter-se obcecado, ainda que o trem já tenha passado. Nada a fazer, apenas observar o jeito disforme que os acontecimentos se dão, e refletindo vez ou outra, com um ceticismo criado por um bando de memórias inconvenientes, bandidas. Refletindo vez ou outra, e vivendo sob um ponto de vista absolutamente duvidoso, quase mascarado, atrás de uma cortina um pouco distorcida. Do que é, do que foi e do que poderia ter sido.

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