Apenas contemplando,
O meu gato que se aconchegou nos meus pés logo que cheguei, o cansaço e a tranquilidade pós corrida, a limonada que preparei para saciar minha sede. O sol que se estende lá fora, com imperatividade e graça, os pássaros que cantam lá longe, para o lado dos campos da cidade.
A respiração que começa a ficar um pouco mais perceptível, assim que presto atenção. O cheiro do meu apartamento, tão confortável e afetivo. O tapete que estou sentada agora, e os livros, os móveis da casa e tudo o que eles representam no meu imaginário.
O dia, que começou ao lado do meu grande amor, e a noite passada, que terminou ao lado dele também. Nossa vida juntos, e a beleza de dividir o normal, o que não foge à regra. Rir das pequenas coisas, contar segredos absurdos, e puxar um assunto sem utilidade as três horas da manhã.
Tudo isso, só para ter que acordar cedo no outro dia e fazer uma reclamação supérflua, sobre querer ficar de preguiça na cama. Mas no fundo, saber que a felicidade está nessa partilha que se detém mesmo no cotidiano, na vida que corre sem pedir permissão, ainda que o alarme vá tocar as sete da manhã.
Dar um sorriso para ele, seguir de mãos dadas rumo a outros dias que virão. Invariavelmente seguir nossos caminhos a sós, desejando o próximo encontro. Um pouco fantasiosos, com um quê de infantilidade e paixão, mas também realistas e obstinados, porque do fluir há adversidades e do amor surgem as mudanças.
Em um intervalo no meio do trabalho, parar e olhar para a janela, pensar nos inúmeros acontecimentos que configuram aquele “nada demais”, que gostamos tanto de usar para descrever a maioria de nossos dias…
E ter certeza de que, a vida faz sentido por conta da somatória de coisas que soam assim, incontáveis e incontáveis momentos em que “não há nada demais”, mas que no geral, significam nossa existência muito mais do que podemos imaginar.