Passei um café novo para te contar que a vida tem essa mania de atirar-me tantas coisas na cara, o tempo todo. E eu não as nego, pego as tralhas e belezas, faço um arsenal. Me coloquei a pensar em minha própria vida, e desisti no meio do caminho, visto que daria um trabalho danado, consertar os vazamentos, desatar os nós, fazer novos laços. Só vou andando, melhor assim. Como é despretensiosa a minha existência.
Fui negligente com meu próprio corpo em diversos momentos, me deixei de lado para curar feridas que não eram minhas, enquanto minhas dores tornavam-se crônicas. Depois de um tempo, reparei nelas, voltei atrás. Quase sempre penso duas vezes, e isso me mantém de pé e também me leva para um lugar que não há luz, não há janelas.
Agora, estou em contato comigo e me vejo cada vez mais real, e mais falha. Percebi que meu maior desafio é enxergar-me de verdade, sem projeções egóicas, vitimistas, ou impostas por terceiros. Na penumbra, reorganizo pensamentos, mesclados a uma vida escondida, secreta, só minha. Na luz, mostro apenas o que desejo externar. Estou mentindo para eles? Eles- quem? Me pergunto.
Te amei porque você tem esse jeito de pensar que está sempre certo, e eu nunca sei de nada. Deixo parecer, e você com esses olhos doces, não minto porque essa tua sensibilidade me desvenda.
Certa vez descobri que não se pode querer tudo, e não é óbvio? Desde então, passei a continuar querendo tudo, só que agora um pouco mais consciente desses danos. Talvez com um pouco mais de cautela, não muita, não tenho de onde tirar tanta calma.
Existimos sob uma linha tênue entre a felicidade e a tristeza, sempre buscando novo sentido, nova esperança, novo motivo para seguir. Sim, vá por essa nova rota. Sim, deixe ir o que não faz mais sentido. Sim, desista da ideia de perfeição. O café esfriou porque fiquei divagando, mas eu gosto disso. Deixar o café frio na xícara, meio que abandonado. Divagar qualquer coisa, só para me conhecer melhor.