Alice Chala | Onde foi parar o interruptor?

Apaguei todas as luzes da casa, de propósito, como quem deseja e concretiza. Então, comecei a andar no escuro, no breu, como quem procura. Nesse exercício, tateava um interruptor, para reacender

e interromper aquela brincadeira em que eu mesma havia me colocado.

Ao andar, meus olhos passaram a se acostumar com a escuridão, e não senti mais necessidade urgente de luz. Observei o escuro, era nele que eu me encontrava, e agora me desafiava a achar o que estava buscando. O quê estava buscando?

Ouvi alguns passos atrás de mim, quem poderia ser? Pensava estar sozinha, queria estar, mas no fundo, sabia que não estava. Ouvi vozes, sugestões e ruídos, senti algumas mãos me puxando. Para onde vou, para onde vamos? E como posso saber, se estou no escuro?

Eu me perguntava, mas não externava, afinal, uma companhia no breu não deve ser de todo mal.

Acostumei meu olhar, e passei a enxergar coisas que nunca havia visto antes. Enxerguei rostos me olhando, alguns amáveis e outros, nem tanto. Enxerguei lugares que nunca visitei, e outros de que já estava farta. 

Era uma familiaridade, com algo de novo que se aproximava, também me cercava e eu observava de longe, porque ainda não era a hora de sair. 

Conheci o lado bom e ruim de estar na minha pele. Adorei os presentes que recebi, por admiração e gosto, mas depois de um tempo, joguei fora com ar de egoísmo, orgulho velado.

Passei a tatear as paredes, e a luz? Os quadros, a janela? 

Nesse meio tempo, ouvi alguém me dizer coisas bonitas, vacilei, me perguntei se aquilo tudo era pra mim. No entanto, só havia eu naquela sala, eu e os outros. 

E esses outros, esses que chegaram depois ou que já estavam aqui, só pude enxergar quando apaguei as luzes e observei atenta. Não é engraçado? Enxergar melhor no escuro.

Dessas coisas bonitas que ouvi, me senti tocada, mas não sabia o que fazer e errava constantemente em relação a isso. Em qual parte de mim cabia esse tanto? 

Acabei por me perguntar sobre a razão de ter desligado as luzes, lá no início, e sem resposta, me vi sentada no chão da sala. Observando aqueles rostos, lugares. Ainda com a mesma dúvida latente, onde foi parar o maldito interruptor?

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