Pensei muito antes de começar a escrever, algo nada usual da minha parte. Hoje não coloquei música de fundo para inspirar minhas palavras, nem procurei poesia para citar. Passei o final de semana refletindo: o que eu vou manifestar a respeito do Brasil?Se a pele está tão sensível ao externo, como deixar passar a sensação desse calor que tem se instalado? Com frequência, tenho me perguntado: Qual a face da nossa nação?
Ontem eu estava na rua, dia importante, dia de exercer o direito e celebrar o existir. Observei coisas que me enchem os olhos só de lembrar. Vi crianças, adultos e idosos. Meus olhos sensíveis ao coletivo, ao ato de estarmos juntos. Pensei naquelas pessoas, rostos perdidos na multidão, pensei na minha existência, nas pessoas que amo. Essa face da nação brasileira, tão misturada, cheia de si.
O Brasil carrega no seu âmago nossas feições, vivências. Os passos que percorremos por aqui, tudo que nos foi ensinado. Mas também, tudo que nos foi roubado, e as lutas que foram esquecidas, manchas de sangue no solo. Qual é a face da nossa nação?
Parece que esquecemos de olhar no espelho, ou para a história. Parece que esquecemos o quanto nossa pele está arranhada, machucada, pois também fomos violentados por aqueles vizinhos que tanto idolatramos.
Parece que esquecemos que estamos sob o mesmo céu, sob o mesmo teto, dividindo a mesma mesa. Parece que esquecemos que dependemos muito mais de nossa fauna e flora, do que ela de nós. Parece que esquecemos que o solo é o mesmo para todos, que o sol é o mesmo para todos.
Parece que esquecemos de olhar para frente, apegados ao passado, revivendo velhos traumas. Mexendo em caixas que não deveriam ter sido abertas, não aprendemos a lição.
O Brasil está em um enfrentando um processo difícil, nossa identidade está em risco, esquecemo-nos quem somos e para quê viemos. Isso me entristece, particularmente.
Não digo que quero ir embora daqui, quero um cenário mais seguro para todos aqueles rostos que observei ontem na multidão. Aquela gente que não conheço, aquelas pessoas com quem nunca conversei, mas que estão aqui comigo, caminhando na mesma estrada.
Aquela Amazônia tão distante, que pouco importaria se não fosse por ela que posso respirar para continuar vivendo. Aqueles nativos que chegaram primeiro, que pouco ouvimos falar, que zelaram com tanto amor e que hoje são hostilizados por nós. Quanta ironia!
Essa é a nossa face, verde, amarela e azul, sim. Mas repleta de suor, não meu e não seu. De todos nós. Estamos juntos. Embora estejamos esquecendo de olhar para o lado, para nós mesmos. Quem é o brasileiro que você vê quando olha no espelho?