Ela tinha pouca opinião, muitas indagações e uma única e perturbadora incapacidade de decidir. Tudo para Luzia era dúbio. E por ser assim, tudo ficava confuso e difícil. Diz o ditado popular, que quem não sabe seu rumo, não vai a lugar nenhum. Ela não ia.
As escolhas eram difíceis. Como acertar, tomar a decisão correta? Olhando para ela, com aqueles olhos castanhos intensos, se percebia o retrato da indecisão. Não compreendia realmente o que queria da vida. Ignorava os profundos significados do ato de optar.
Se autodefinia: “Não sou bonita, nem feia. Nem gorda, nem magra. Nem inteligente, nem burra. Nem velha, nem nova. Não casei, mas não vivo só”. Ia além: “Não opino sobre política, pois em tudo vejo somente o lado bom. Capitalismo é bom, mas escraviza. Cérebros e músculos. Socialismo é bom, mas é, de certa forma, utópico. Comunidades alternativas são boas, mas produzem alucinações – mentais e braçais”. Concluía: “Não sou de esquerda, nem de direita”.
Assim Luzia vivia, já quase enlouquecendo em seus princípios de bondade e indecisões. O mundo é cheio de alternativas, mas como decidir qual a melhor para si, sua família, sua cidade, seu país e seu mundo planetário? E além de tudo, fontes estudiosas e seguras informavam que um asteroide de tamanho médio se chocaria com a Terra em 2023. Haveria tempo dela ter foco em alguma coisa?
Na Universidade onde cursou Comunicação Social existiam dois colegas interessados nela. Mas ela nunca decidiu qual dos dois seria o ideal. Ao final, ficou sem nenhum. Sim, também em seus relacionamentos não soube decidir.
Na vida profissional, Luzia, não havia como ser diferente, hesitava. Deixou para trás empregos interessantes. Vivia ao sabor do vento. Sem planos.
Aos quarenta de idade, foi obrigada a decidir. Casava ou não? Escolheria o empresário ou o jornalista? O empresário dominava a economia, os mercados financeiros, mas o jornalista tinha extremo conteúdo intelectual. Inclusive para longos debates com ela. Como não poderia deixar de ser, sobre Comunicação e indecisões.