Ela completou 😯 anos. Era viúva. Sofrida por ter também, perdido seu filho mais novo. Almoça sozinha. Em sua mente muito sofrimento. Ela come saladas. Ela afinal, nem consegue comer até o fim a salada. Abandona a mesa. Empurra o prato. Vai para o quarto. Onde vagueiam lembranças de um tempo que não volta mais. No meio da sua angústia, fita um porta-retratos com a foto do seu filho. Uma lágrima desce pelo seu rosto. Depois outras. E outras. Ela percebe a beleza dele. Morreu jovem e era lindo. Seu rosto se encharca de lágrimas e de saudades.
Lenora deita na cama ,mas não consegue dormir. Na verdade nem pensa em descansar. Aflita, fita os olhos novamente no porta-retratos. Ela não acredita no que aconteceu com seu filho. Apesar de já passados sete anos daquela ausência. Lembra em detalhes, sua gravidez, o nascimento do menino e toda sua infância e adolescência. O menino tinha olhos azuis, vivacidade ,estatura média e saúde perfeita. Era um entusiasta da vida. Quando adulto e aos domingos, costumava visitá-la. Volta e meia, aparecia com um presente novo para ela.Falava alto e tinha muito senso de humor. Era difícil esquecê-lo.
Agora, sem o filho. A mesa posta não lhe dava nenhuma alegria. Nada mais a encantava. Nem a toalha linda, nem os talheres de prata, nem o quadro na parede. Tudo era saudade. Tudo era tristeza. Nem a bebida que ele tanto gostava, agora, degustada por ela, tinha sabor. Tudo parecia amargo. Como amarga ficou a vida, sem aquele filho. Sem aquele marido. Para aquietar sua mente, às vezes lembrava de Deus. Mas já não era tão fervorosa como antigamente. Parecia que sua religiosidade se diluía. Em algo que ela não via. Apenas sentia.
Foi Umbandista, foi crente, acreditava em Deus. Nas noites de lua cheia fazia uma infusão de ervas. E queimava pela casa numa grande defumação. O cheiro de canela e das resinas perfumadas envolviam a casa, numa aura quase celestial. Tudo era delicioso. Tudo ficava harmônico. Era uma época de graça e beleza. O marido chegava. Ela cozinhava para ele. O filho chegava. E juntos almoçavam. Com prazer e cumplicidade. Na hora do cafezinho, muitas risadas. Com as piadas novas, compartilhadas pelos três. Tudo era divertido. Tudo era encantador.
Agora eles se foram. Agora, ela estava sozinha à mesa. Nenhuma voz se ouvia. Tudo era silêncio e saudade. A vida e a morte são façanhas imprevisíveis. Deus existe. Até quando nenhuma resposta humana parece fazer sentido. A pequenez é dos humanos. A perfeição é de Deus. Só a ele cabe , planejar e traçar destinos. Lenora cabisbaixa, quase catatônica, sentada à mesa, amarga seus dias. Tão longos e sofridos dias. (Ana D´Avila)