Sentado num bar não tão bem frequentado, ele afogava mágoas. Fora traído e ludibriado. Estava assustado com as peripécias da sua digníssima cônjuge. Ela era do lar. Das panelas, do sabão em pó e dos namoricos com o dono do açougue. O açougueiro era da colônia italiana, imensos olhos azuis e movido por uma alegria escancarada. Mas o cidadão etílico nem desconfiava das escapadelas da mulher. Foi o último a saber.
Num desses porres, numa sexta-feira de happy-hour, depois da terceira garrafa de cerveja, ele entendeu seu drama. Enquanto o panorama ao seu redor começava a girar. Foi ao banheiro e na volta tropeçou na bandeja do garçon. Foi um desastre. Cervejas e pastéis voaram entre as cadeiras encima dos fregueses. Sentou-se novamente e pediu mais uma.
Quase meia-noite e, inesperadamente entra no bar, seu amigo da redação. Ambos eram jornalistas. Pareciam muito inquietos e sofredores. Os dois tinham problemas de relacionamento. Suas prendadas e enclausuradas mulheres, o centro das discussões. A primeira era feia e pobre. A segunda, tinha graduação superior, um bom emprego e um corpinho sarado. Mas alguma coisa nelas não combinava com eles. A culpa da infidelidade talvez fosse pelo longo tempo que passavam trabalhando. E descuidando e ignorando as respectivas. Ninguém gosta de ingratidão e menosprezo.
O verão já havia chegado. E o tempo quente estimulava às idas ao bar. O chopp era sempre bem gelado e os pasteisinhos apetitosos e feitos na hora. Os dois amigos passaram a se avistar nos finais de tarde. A conversa girava sempre em torno da falta de amor, sexo e traições. “Somos dois cornos”, disparou o primeiro. Enquanto o segundo, ameaçou chorar. Ele gostava muito da patroa, era mãe de seus filhos. Mas ela, descaradamente teve um caso extra-conjugal com o dono do açougue. Ele até suspeitava que um dos meninos não era seu filho.
O amigo ouvia atento o relato: “Não vou perdoá-la nunca”! “Traição não se perdoa mesmo”, gritava o outro. Ao que ele em linguagem popular exclamava: “Me separei amigo, porque ela vivia dando pulinhos por aí. A vizinhança toda sabia e eu não queria continuar sendo motivo de chacota”. A decisão foi tomada.E a separação aconteceu depois de muita discussão. A mulher não teve muita alternativa. Refugiando-se na casa do açougueiro, pelo menos, garantiria o “bife acebolado”de cada dia. A segunda mulher, a mestrada, também se divorciou. Vai ver foi dar “uns pulinhos“ lá na Europa. Em Lisboa, a Terra de Camões. Ou quiçá nos Emirados Árabes. Enfatizava do alto de sua cultura universitária, que a vida no casamento não é só purpurina. Dá trabalho! E muitos desatinos. Entre eles, os descontraídos e prazerosos, “pulinhos”.