Ela provavelmente tinha o Carnaval entranhado em seu corpo e em suas veias. Não tão
manifestável, mas incrivelmente alegre e lúdico. Tinha lá seus cinco anos de idade e, no
período de Carnaval , ganhou de presente do pai uma colorida sombrinha para dançar frevo.
Era década de 50. Nesta época existiam muitos blocos de Carnaval que circulavam nos bairros
de Porto Alegre. A alegria era disseminada por passistas e cantada em lindas batucadas em
várias ruas metropolitanas.
Morava no Bairro Teresópolis. E ali o samba era uma evidencia animadora. Existia um bloco
carnavalesco famoso que circulava por aquelas ruas. A menina brincava na frente de sua casa
com a sombrinha colorida do frevo presenteada por seu pai. Até que a batucada chegou perto
dela fazendo-a mais feliz do que nunca.A música parecia circular em suas veias, como
sangue,como ópio, como qualquer coisa que entorpecia num grande prazer existencial.
Ela não teve dúvidas. Inseriu-se no contexto e sambou feito uma grande passista com os
componentes da escola.Foram indo rua abaixo e a menina deslocando-se com os
componentes da escola.E dê-lhe samba, serpentinas e cantorias. Ao longe se via a sombrinha
em sacudidelas atrevidas acompanhando a batucada.
Ela foi ovacionada pelos componentes da bateria. Sambou e encantou os participantes do
bloco e também chamou a atenção dos passantes.E dê-lhe frevos. E dê-lhe sambas. Enquanto
em sua casa, a mae e o pai, notaram o desaparecimento da menina. Ela não estava mais
brincando em frente à sua casa. Os pais se assustaram. Onde andará ela? Teria desaparecido
assim de repente? Depois de várias buscas pelo bairro conseguiram localizá-la. Estava a cerca
de um quilômetro dali envolvida em gostosos passos de samba.
Aplaudida e maravilhada com a música do Carnaval dançou quase a tarde toda. O pai vendo-a
no bloco custou para frear a menina.Acabou convencendo-a a voltar para casa. Onde sua mãe
e seus irmãos a esperavam com preocupação. Esta menina chamava-se Ana Regina. Era eu. E
hoje, 21 de fevereiro,é meu aniversário. Nasci no Carnaval e sou apaixonada por este período.
Se é alienação, não se!. Só sei que trago em meu âmago uma alegria infinita. Talvez
reminiscências daquele periodo da minha vida. Onde fui muito atrevida.E também muito feliz.
Dançando e sapateando na Avenida com minha colorida sombrinha de dançar frevo.Hoje
desejo uma feliz terça-feira de Carnaval para meus leitores. Principalmente para os que assim
como eu, nasceram na época do Carnaval. (Ana D´Avila)