A tarde do verão escaldante reuniu muita gente na praia. Mulheres bronzeavam-se. Vendedores ambulantes de sorvetes e bebidas, comercializavam produtos. O mar de um azul escuro dava às ondas de espumas brancas, um toque diferenciado. Parecia uma tela pintada por algum artista renomado. Vez por outra, um helicóptero com turistas sobrevoava a praia. O forte barulho do motor se misturava com o trepidante som das ondas.
Surge na praia, de mansinho, um homem com um menino. Estranhos e inusitados. Já que na praia, quase sempre surgem famílias. Ou o triângulo, pai, mãe e criança. Mas ele chegou apenas com um menino. Que parecia ser seu filho. O menino era magrinho, aparentava uns cinco anos de idade e o homem, uns quarenta. Magro, de cabelos curtos e de bermudas laranja. Se dirigiu e se instalou, o mais próximo possível do mar.
O homem gesticulava com o menino. Parecia convidá-lo à um mergulho. Mas a criança não queria entrar no mar. Em seguida caminhou sozinho para a água. Enquanto o menino permaneceu na areia. Retirou da mochila, balde e pazinha. E começou a construir não um castelo, mas um monte de “bolinhos de areia”. Olhando de longe parecia uma mesa de padaria com exposição de bolos. Não de massa, ovos e farinha, mas de matéria-prima marítima: água salgada e areia.
O sol estava bem forte. O menino, por sua vez, não estava protegido. Nem óculos, nem chapéu. Assim como seu provável pai. Que neste instante, adentrava compassadamente ao mar. Com certeza sabia nadar. Pois não se arriscaria entrando tão longe. A água passava por cima de seus ombros. Parecia revigorar-se com aquele banho.
Após alguns minutos nadando, voltou até onde o menino havia ficado. A esta altura, como num forno de padaria, já haviam sido criados, uns sete bolinhos de areia. Moldados com o baldezinho que o menino utilizava. O homem voltou a conversar com o menino. Convidando-o para um mergulho. Desta vez, a criança aceitou. E foram entrando mar adentro. Enquanto suas roupas, seu balde, pazinha e seus bolinhos ficaram secando ao sol, no seu espaço de praia. O pai, pegou a mão da criança, demonstrando preocupação com a segurança. Juntos se encaminharam ao mar. Desta vez, e por causa do menino, mais próximo da praia.
Observando os bolinhos, surgem dois outros meninos. De idade semelhante. Olham os pertences do homem e do menino. O balde, a pazinha e a mochila. E num gesto ousado, sapateiam em cima dos bolos de areia, destruindo-os totalmente. Depois correram em disparada, desaparecendo na multidão. Que reação teria o homem e o menino quando voltassem de seu banho de mar?A maldade humana não respeitou o espaço de lazer da praia. No fundo aqueles dois meninos tinham espírito maldoso. No ímpeto da travessura, optaram pela destruição. Ao contrário, e longe dali, o menino criativo e seu pai deliciavam-se com o mar. Mais tarde, provavelmente, tentarão entender, o que se passou na areia na sua ausência. Solitário homem! Tristes meninos!(Ana D´Avila)