Desembarque em Lisboa. Abril de 1987. Aeroporto Da Portela. Povoado de pessoas falando muitos idiomas. Entre eles, o português. Mas português castiço. Ora pois! Necessitava de um táxi para deslocamento ao Residencial Santa Catarina. Pelo motorista senti que realmente se falava quase outro idioma em terras portuguesas. “A miúda (criança) não pode sentar-se à frente”, disse ele. Referia-se à minha filha. Crianças em Portugal são muito respeitadas. Existem inúmeras regras para elas. E, total educação. Elas permanecem diariamente nas escolas das 9 da manhã às 4 da tarde. E todas precisam dormir às 21 horas, após um alerta na Televisão, em forma de música. É o horário do “Vitinho”. Crianças na rua à noite, em hipótese nenhuma.
No dia seguinte, indaguei para um passante: moço onde consigo um táxi? Ele respondeu com sotaque lisboeta: “ao pé daquela árvore, senhora”. Sim, a referência conferia. E aos poucos fui aprendendo aquele idioma. E, aquele jeito português de ser. Tão familiar e ao mesmo tempo tão estranho para uma brasileira. Quanto aos táxis, antes mesmo da moda Uber chegar. Lá em Portugal já existiam os táxis especiais. Para turistas. Sem nenhuma conotação de táxi normal, com letreiros e identificação. São carros lindos. A maioria Mercedes Benz.Também, existem limusines. E, muito luxo.
O clima do mês de abril em Lisboa costuma ser fresquinho. Uma primavera agradável. Precisei comprar meias e fui à uma loja. “Uma meia-calça por favor”! A atendente não sabia o que eu queria. Depois de uma explicação, respondeu. “A senhora quer uma peúga”. Já estava quase acreditando que o Português falado no Brasil não tinha muita relação com o dos Portugueses.
No Bairro do Chiado, Centro de Lisboa, as confeitarias são espetáculos a parte. Assim como o Café A Brasileira. Frequentado pelo poeta Fernando Pessoa. Fama de bons confeiteiros e padeiros, os portugueses realmente tem. E para não errar mais, aprendi que cafezinho em Lisboa: é “bica”. Ao contrário da cidade do Porto, ao norte de Portugal, que é “Zimbalino”. Os portugueses são muito bairristas. Se você estiver no Porto e pedir uma “bica”, eles se ofenderão.Os lisboetas chamam os portuenses de comedores de tripas. Pois o prato principal da cidade do Porto, é “tripas a moda do Porto”. Uma espécie de mocotó. E os portuenses por sua vez, chamam os lisboetas de “comedores de caramujo”. Pois há uma predileção nos restaurantes por mexilhões e afins. Notório é a rivalidade entre o pessoal de Lisboa e do Porto. Como existe aqui entre gaúchos e paulistas.
Mudança climática e viagem às vezes é motivo de problemas. Minha filha, na ocasião com 7 anos, ficou gripada em terras portuguesas .Procurei ajuda numa clínica médica. O médico educadíssimo sentenciou: “O que tens rapariga?”. Rapariga lá é menina. Gúria, para nós gaúchos. E ele, disse: “Preciso te examinar. Tira a camisola”. Ela me olhou estupefata: como tirar a camisola? Ela não estava de camisola. Ao que entendemos: “camisola” lá quer dizer, “bluzão de lã”.
E fomos aprendendo: banheiro é “casa de banho”. Chiclê, é “goma elástica”. Fila é “bicha”.Coisa bacana, bonita é “gira”. Xícara de café, é “Chávena de café”. Trem é “comboio”. Salva-vidas na praia é “banheiro”. E se você morar lá um bom tempo, quando retornar ao Brasil verá que o idioma português realmente tem muitas variantes. Enquanto o “Ai Jesus” circula solto em todas as esferas sociais portuguesas. E a água mineral mais famosa do País é a “Das Pedras”. Uma espécie de Sonrisal, de tão borbulhante. Já de volta à Porto Alegre, no Aeroporto Salgado Filho , suspirei castiça: “Ora Pois, de volta a Terrinha!”(Ana D´Avila)