Alheio ao pesadelo do fim do mundo – ou dos tempos, de clima imprevisível, de dias perturbadores – o pássaro sobrevoava a praia. De manhãzinha… aquele sol desmesurado que costuma, nestes tempos hodiernos, aparecer nas cidades, no campo e nas praias.
Ele cresceu. Ou será a sombra dele que expandiu? Ou a camada de Ozônio que abriu? Fato é que o sol está imenso. E pelo calor que emana, com mais radiação também.
Observo o sobrevoo do pássaro. Ele canta. Ele saltita. Dá rasantes na água – que não é pouca. Tem espuma e intensidade. Golfadas de mar vão e vêm. Se enroscam nas casinhas dos salva-vidas. Assustam.
Mas o pássaro não dá a mínima para a ressaca. Continua cantando e voando. Aos poucos, pessoas vão chegando. Todas, evidentemente, com seus celulares. E filmam. E fotografam o mar arredio. O som da maré parece um jato. Até a moça que faz cooper na praia, hoje está fotografando as ondas. Esqueceu a manutenção de sua forma perfeita. Seus músculos.
Sua bunda ereta. E pensa no mar.
O mar. Esta avalanche de água salgada que encanta a todos e ao mundo. O mar é um misto de alegria e tragédia. De sombras e assombros. De transtornos apocalípticos e de delícias refrescantes no verão.
O mar hoje parece chorar com tanto plástico que os seres humanos estão colocando nele. Sufocando o reino animal que tem morada dentro dele. Fonte de vida. Fonte de oxigênio. Tão triste está… revoltado. E o pássaro canta, canta… Sem responsabilidade alguma pela sujeira colocada ali. Ele faz parte da natureza. Talvez cante para distrair… pessoas e o próprio mar.