Ana D´Avila | Os Incompreendidos

Incrustada no litoral norte gaúcho está uma praia vintage. Típica dos anos 50. Um casal desce da moto e instala-se na cabana. Pretensamente apaixonados e confusos. Ele, incompreendido. Ela, feminista de carteirinha. O que poderia uni-los realmente? Além da encantadora paisagem de Marambaia. Que um dia, foi cantada em verso e prosa numa linda composição musical. E agora, esconde um homem e uma mulher travestidos de fortes, supostamente felizes.

 Eles representavam uma sociedade vesga, de ideias desatualizadas e sofredores. O teste de inteligência dele acusou 110 na escala de QI. O dela nem chegou a   ser   concluído. Eram parcos, mas   metidos a inteligentes. Nem se incomodavam com o que os outros pensavam. Queriam viver escondidos. De certa forma a paisagem daquele local combinava com suas pretensões. Não havia aglomerações de pessoas, nem shoppings nem ponto de táxis.

 Na frente da casa, existia uma grande árvore. Sinônimo de natureza preservada. Quem a plantou ninguém sabia. E ali em Marambaia, o cenário era propício. A cabana onde estavam era lúgubre. Nem o sol   aparecia. Mas o pequeno chalé estava lá.

Manoela e Ricardo não ligavam para o mundo nem para a sociedade vigente. Acreditavam somente em suas alucinações. Na verdade, eram dois doentes mentais. Que resolveram passar um final de semana normal quando em verdade eram desequilibrados.  

Tanto um como o outro tinham problemas emocionais. Traumas de infância e disfunções sexuais. Um caso para análise de algum   psiquiatra freudiano. Jamais para   os adeptos de Jung.

Dentro da cabana havia um certo conforto e um pouco de calmaria. Naquele sábado eles conversaram   até altas horas da noite. Jantaram um besuntado macarrão com legumes. Dividiram cervejas compartilhadas e foram dormir.  Ao  longe, o mar bramia.Com aquele eterno bailar de ondas com suas  franjas de espuma.

Os baseados foram fumados pela manhã, junto à uma duna próxima ao mar. Chapados e curiosos empreenderam a pé uma caminhada. Pelo caminho, divagações absurdas. Um querendo ser mais esperto e inteligente que o outro. Quando   em verdade seus corações choravam. Quando em verdade, jamais se adaptaram ao mundo.

Ricardo foi casado e teve muitas experiências amorosas com   mulheres que o traíram. Manoela era uma romântica incorrigível, que jamais ousou trair seu marido. Ambos anteriormente foram casados. Mas das experiências matrimoniais deles   nada foi pleno. Nada foi   dignificante .  Se  conheceram   ao acaso numa viela da Capital. Num dia de maio, consagrado às mães.

E estavam agora, tentando   uma aproximação. Talvez   para corrigir erros do passado. Mas tudo era novamente nebuloso. Ambos desejavam morrer. Se não de sofrimento, de vergonha. Por serem humanos desprezíveis, lunáticos e viciados. Marambaia tão linda, ficou lá. Na segunda-feira pela manhã eles voltaram para a Capital. Sem remorso, compreensão ou qualquer gesto de felicidade.  Eram assim, como   repteis que vivem somente mirando o lixo. Como almas insensíveis que não respiram. Apenas, vegetam. (Ana D´Avila)

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