Ana D´Avila | Rastros e restos

Ela observava tudo conforme ensinamento de  um escritor renomado chamado Noll. Dizia ele “ sem observação não existe escrita. Sem conteúdo interessante  não se escreve um livro”. Um bom livro deve prender o leitor. Até à última página.  Foi observando esta lição, que ela chegou à praia no mês de abril. O foco era a observação. Esta, por sua vez, não era nada agradável. A areia estava muito branca. Mas em seu entorno e, com a  subida da maré, tudo se desnudava.Tudo ficava feio aos olhos observadores daquela pretensa escritora.

O mar, com seu gigantismo e força, colocava para fora a  sujeira produzida pelos turistas no verão. Visitantes insensíveis que acham que a praia é uma lixeira. Mas não é. É um ser vivo. Cheio de habitantes. Cheio de energia. Cheio de vida.

Os três quilômetros percorridos em reta beirando o mar, a apavoraram. Não só pela quantidade de detritos, como com a certeza de que o ser humano não  está preservando  a natureza. Pelo menos, no trecho percorrido, não! É necessário parar para pensar. Fazer o que deve ser feito: lutar pela preservação. Do contrário, os humanos irão sucumbir em meio ao caos do lixo. Das doenças e a todo tipo de nefastas consequências.

Milhares de bitucas de cigarro provavam a aflição dos humanos. Muitos cigarros jogados na praia, alguns nem tão fumados, eram vistos. Nem a “bituqueira” colocada na calçada da praia atraía os fumantes. Eles se encarregavam de jogar no chão os restos de seus incendiários fumos. Estavam angustiados, estavam com  problemas. Mas porque apagar seus cigarros na areia tão branquinha? A maré numa sequência lógica, trazia todas as bitucas para a praia. Ali, no chão molhado, pareciam tecer uma obra de arte apavorante.

Pela extensão, se via rastros de pés descalços e de inúmeros tênis. Muitos. Num vai e vem aflito. depois do verão ido. Dezenas de pessoas caminhavam e deixavam suas marcas  na areia . O que pensavam enquanto caminhavam? Amores sofridos? Contas a pagar? Dinheiro escasso? Desentendimentos políticos? Bomba atômica? Ou nos raros gênios que ainda se preocupam com a vida? Os rastros eram muitos, estendidos pela orla. Depois a maré subia e como uma borracha de apagar letras, as faziam desaparecer.

Ao longe, uma rolha de champanhe. Máscaras da pandemia e uma garrafa plástica de água mineral. Estranho conteúdo de uma época intranquila. Em meio ao caos alguém ainda teve coragem de brindar. Naquele mar que um dia significava saúde. Antigamente falavam no benefício das algas. Tomar banho de mar, naquele tempo, era como se livrar de alguma doença. Mas hoje, entrar no mar pode não ser assim tão saudável. E o ser humano não entende que a culpa é sua.A grande pergunta é: Por que jogar detritos no mar? (Ana D´Avila)

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