Como mulher negra nordestina oriunda da periferia do estado de Pernambuco, assumo também outras identidades: cristã anglicana e, por consequência, ativista feminista negra, pelo respeito às diversidades humanas, pelo respeito à diversidade religiosa e à laicidade do estado, apoiadora da causa LGBTI+.
Tenho total consciência de que somente posso assim me assumir com estas muitas identidades, porque tenho o direito (atualmente muito desrespeitado), assegurado pela Carta Magna.
Da História – que é dinâmica e que hoje nos mostra de modo contundente –, aprendo quão danosa à sociedade é a ligação entre religião e estado. Entendo e defendo que o estado deve ser laico, embora as pessoas podem ser (ou não) religiosas. Entretanto, isto não me desobriga de reconhecer e afirmar que a fé é política; pois "política" diz respeito à coisa pública.
A minha fé – a fé que professo com todo respeito às outras fés e às pessoas que não têm fé – é pública, a exemplo do sujeito histórico Jesus, Deus encarnado, que em seu tempo como encarnado viveu sua fé de modo público, e incidindo na política vigente de seu tempo, anunciando e implantando o Reinado de Deus, de vida plena para as pessoas; opondo-se às políticas de estado opressoras, que impunham impostos injustos; bem como à cultura política que excluía muitas pessoas da convivência digna. Por ser aprendente desse Jesus, sinto-me impulsionada a testemunhar a fé que me faz sujeito histórico consciente do meu papel no mundo hoje, aqui e agora, por amor.
De modo que não posso assumir o discurso "em assuntos de políticas, sou neutra", porque a neutralidade, ao contrário do que pensam muitas pessoas, é conveniente para um lado. Ou seja, não serve para a maioria da sociedade eu me dizer neutra, pois a neutralidade beneficiará uma pequena parcela que acumula riquezas e fortunas.
Também não posso e não quero assumir o discurso comum "religião e política não se discute", porque sou ser pensante, dotada de razão (uma das hastes do fazer teológico anglicano: Bíblia- Tradição – Razão), e como ambas, religião e política, são culturas, ou seja, criação humana, são suscetíveis de erros e acertos, que têm consequências para a sociedade da qual sou cidadã e me importo muito aprender com o Bem Viver vivido pelos povos andinos, principalmente para que este Bem Viver alcance às pessoas excluídas pelo sistema capitalista vigente, que nega um princípio de vida que muito dialoga com o Evangelho de Jesus: UBUNTU = sou porque somos juntxs!
Assim, analisar os fatos e nominar as injustiças é imperativo para o jeito de ser cristã que assumi conscientemente, por chamado e por opção.
De modo que:oponho-me ao projeto político de morte em curso e defendo a deposição do atual chefe de Estado, em nome da vida!
Defendo, igulamente, o direito à vida de todas as pessoas, pois fiz e faço opção radical pelo amor!
Insisto: amemo-nos!
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