Coluna do Gustavo | A loucura certa

Uma frase marcou minha jornada em busca de desenvolvimento na carreira. Sempre procurei me inspirar para progredir, para concluir tarefas e, principalmente, para aqueles dias quando o plano “a” não funciona, o plano “b” nasce e morre na fase um e o plano “c” não nos desperta nenhuma motivação sequer para começar. A frase responsável pela atual leva de inspiração é essa: só os neuróticos sobrevivem.

Tirada de contexto ela tem um tom bem mais dramático, mas para mim serviu de complemento para ideias que eu já tinha sobre a necessidade de apresentar algo a mais na tentativa de alcançar meu espaço no mundo de hoje. Como fui abençoado com a oportunidade de conviver com pessoas bem-sucedidas, cada uma na sua área e cada uma com sua definição de sucesso, percebi em suas personalidades características muito diferentes do considerado comum.

Por pelo menos uma vez, já ouvi cada um sendo chamando de louco. Quando perguntei por quê, recebi respostas convincentes e não pude deixar de reconhecer uma certa neura em seus hábitos. Apliquei, para outras pessoas de relevância, análise semelhante sobre seus comportamentos e cheguei na mesma conclusão da frase inspiradora. É necessária uma certa loucura para obter algum destaque, mas apenas a loucura certa, pois a errada não levará a lugar nenhum.

Concordo quando consideram alguém super analítico em cada passo, que quer sempre agir da melhor forma possível, que se submete às regras sem discuti-las e usa somente a lógica almejando um nível absurdo de precisão, um pouco louco. Mas, na verdade, é só mais um jogador de xadrez. Também não é difícil considerar loucura o hábito de quem está cansado da realidade a sua volta e se afasta dela inventando a sua própria com os mais absurdos acontecimentos, dedicando-se horas por dia para criar enredos verossímeis cheios de detalhes. Ficou tentado a chamá-los de malucos? Pois pode se referir a eles como romancistas ou roteiristas.

Funções do nosso cotidiano profissional, quando reduzidas a termo, também adquirem um caráter mais próximo de serem diagnosticadas como alguma deficiência das faculdades mentais. Por exemplo, querer entender tanto as nuances da sociedade a ponto de regularizar tudo e todos com normas prévias e, ao mesmo tempo, mais ou menos mutáveis e cheias de exceções, havendo necessidade de análises, julgamentos e ações de incentivo e punição, pode soar como gostar de arranjar problemas, mas na verdade é apenas a definição da vida dos integrantes de todas as esferas dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

Inclusive a prática esportiva, essencial para uma vida saudável e prazeirosa, quando é definida como a busca da precisão de movimentos corpóreos que exigem treino com infinitas repetições e nos expõem ao risco de lesões, parece mais com uma busca por um problema. Mas nadadores, maratonistas, jogadores de futebol, de vôlei, de tênis e de basquete, fisiculturistas, ginastas, surfistas, skatistas e atletas em geral, apesar de passarem por tudo isso, encaram estas situações como desafios a serem superados, não problemas. Mas são.

Será então que corremos atrás dos problemas para resolvê-los? Sim. E esta é a loucura certa. Basta termos a adequada para a solução dos que queremos resolver. Porque tudo são problemas. Quando somos neuróticos o suficiente para encontramos soluções para as complexidades da vida, como um juiz interpretar a minúcia da lei, um piloto de corrida baixar seu tempo de volta em alguns milésimos de segundo, um guitarrista encontrar a sequência certa de notas para seu solo, um cronista desenvolver seu raciocínio ao longo dos parágrafos, sobreviveremos, afinal, só os neuróticos sobrevivem.

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