Entre lendas e pecados, Pelé nasceu para ser eterno

Às portas de 2023, Edson Arantes do Nascimento deixou a vida. O homem que foi determinante para transformar o futebol no esporte mais popular do Planeta, assumiu definitivamente o seu formato lendário.

Três Copas do Mundo. Dois mundiais de clubes e seis campeonatos brasileiros pelo Santos. Cerca de 60 títulos e trocentos recordes. Também pelo Cosmos dos EUA. Mais de mil gols. De tudo quanto é jeito. Direita. Esquerda. Cabeça. Bicicleta. Voleio. De fora da área. De pênalti. De falta. De placa. Tabelando com as canelas adversárias.

Pelé nos gramados está entre as maiores saudades do que não vivi. Aquela seleção de 70 certamente seria a minha favorita. Gerson lançando. Rivellino armando pela esquerda. Jairzinho voando baixo no lado oposto. Tostão deixando a área para o ingresso dos companheiros. Pelé honrando a dez como a cereja do bolo no primeiro 4-2-3-1 da história. Posição e função? Ponta-de-lança. Atacante. Meia. Assistente. Armador. Finalizador. Protagonista! Camisa 10 em gênero, número, grau e GENIALIDADE.

Técnica. Força. Drible. Explosão. Velocidade. Raciocínio. Inventividade. Futebol brasileiro na essência, raiz, à vera. Foi o protótipo perfeito do jogador de futebol. Principalmente daqueles que atuam no ataque, naturalmente.

Jogou de goleiro. Parou uma Guerra. Apanhava, mas também sabia bater, numa época em que a arbitragem de vídeo sequer sonhava em nascer. Era tão fora da curva que até os gols que não fez entraram na história. Virou adjetivo. Fulano é o Pelé da literatura, da música, da arquitetura, do cinema, do direito, do automobilismo, da medicina, do basquete, do jornalismo…

“Se Pelé jogasse hoje, seria um jogador comum”, dizem alguns. Por favor, senhoras & senhores! Se atuasse no século 21, Pelé faria 2 mil gols. Com o avanço da preparação física, da fisiologia e da medicina esportiva, Pelé flutuaria nos verdes gramados mundo afora. Eu aposto sem hesitar.

Seria, ainda, o homem mais rico do mundo. Faria divulgação para marcas de shampoo, de carro, de televisor, de celular, de salsicha, de sorvete, de cama, mesa e banho. Sua imagem seria a mais popular do Planeta. Seria o show man das galáxias. Seria o Pelé também do marketing.

Seguindo no extracampo, deixemos os merecidos elogios acima e foquemos no outro lado da moeda. Com 82 anos de existência, natural que o currículo tenha páginas nem tão festivas assim, né?

A história e o teste de DNA dizem que rejeitou uma filha legítima. Sandra Regina, que chegou a ser vereadora por dois mandados em Santos. Faleceu jovem, aos 42 anos, vítima de câncer. A história conta que Edson apenas mandou flores para a despedida. Lamentável. Desnecessário. Desumano. Repugnante. Com o perdão pelo julgamento. Ainda mais de um reles súdito perante ao Rei.

Pelé — que desejou o gol mil para as criancinhas — talvez pudesse ter feito mais politicamente pelo país e pela humanidade. Principalmente em defesa das justas, históricas e necessárias bandeiras da negritude. Combate ao preconceito. Valorização da cultura afro-brasileira. Poderia ter sido o porta voz pela promoção da igualdade racial. Para a melhoria da qualidade de vida do povo negro em saúde, educação, segurança, emprego, etc. Em tudo! Pela relevância mundial que possuía, poderia ter entrado para a história também fora de campo.

Até os gênios erram, deslizam, prevaricam, desperdiçam oportunidades. Edson era humano e, portanto, falho. Edson era homem e, infelizmente, mortal.

Já Pelé, graças aos deuses da bola, é eterno. Tal qual a sua obra. Ornamentada em azul, verde, amarelo e em branco, claro!

Obrigado, Rei!

A história agradece.

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