Erika Goelzer | Ninguém é uma ilha

Nenhum homem é uma ilha, disse o poeta e religioso John Donne. Freud compactuava dessa ideia e escreveu toda uma teoria científica em que o encontro com o outro é uma das variáveis mais relevantes na formação do eu. Nascemos indefesos, incapazes de cumprir o instinto  e  não sobrevivemos sem um outro cuidador que se ocupe de nossos cuidados. O Nebemensch (Freud, 1895), o outro ao lado que se ocupa das necessidades vitais de um bebê é o pilar da alteridade na formação da subjetividade.

O Nebemensch é o primeiro de muitos “outros” importantes em nossa vida: pai, mãe, irmãos, tios, primos, dindos, avós, amigos, professores, colegas… a lista é interminável e repleta de possibilidades. Com cada outro encontrado no caminho estabelecemos uma dinâmica de relação. Esta dinâmica é, em sua essência, uma vivencia singular e de repetição. Tão certo quanto o fato de precisarmos de um outro é o fato de que repetimos padrões. A repetição ou compulsão à repetição é outro dos conceitos importantíssimos da psicanálise. Há um fio condutor que remete todas as nossas ações há uma espécie de fantasia inconsciente de quem somos ou deveríamos ser.

A realidade tem nos mostrado exatamente isso! A pandemia de Covid-19. Foi justamente porque nenhum homem é uma ilha que o vírus se propagou. E, justamente por ninguém ser uma ilha é que seremos salvos. Cada vacina efetuada, em nosso país ou em outro, nos protege também. Precisamos uns dos outros para seguir adiante. A resposta para a humanidade está justamente na convicção de que não somos uma ilha. Nossa vida não é só nossa e a vida do outro tampouco é só dele. 
Podemos abrir essa reflexão para uma série de situações. Podemos pensar sobre o lixo que produzimos, a poluição que provocamos, a economia do patrimônio natural, sobre a segurança pública, sobre a educação e muito mais. Porque se não pensarmos coletivamente a morte pode chegar por asfixia em um planeta com oxigênio abundante.

Mas como viver melhor em sociedade então? Sendo um “eu”melhor. Pensar sobre os próprios padrões, sobre as próprias repetições pode possibilitar um repertório de ações mais saudável e adequado. O outro é importante mas não pode ser a “bengala”que justifique nossos erros. Cabe a cada um a responsabilidade pela própria vida, pela própria máscara. Há sempre uma decisão pessoal e intransferível de responsabilidade pessoal e social.

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