Ele tem apenas dois meses na função, mas já sabe muito bem quais são os perigos dela. Ruan Bauce, 21 anos, largou seu emprego em uma farmácia, trocou de carro e se tornou motorista de Uber. Já no segundo dia de trabalho, ao ir pegar uma passageira na esquina do supermercado Nacional, no Centro de Viamão, o primeiro susto.
— Fui cercado por taxistas, que desceram dos seus carros e vieram me atacar. Era apenas o meu segundo dia de trabalho e já vi o que me esperava pela frente. É preciso que tenha uma legislação do nosso lado — conta.
Hoje, são as poucas as chamadas que ele aceita de moradores do município onde vive. A dificuldade e o medo de trabalhar refletem na quantidade de profissionais disponíveis em Viamão. Segundo mostra o aplicativo, a média diária gira em torno de oito.
— Tem poucos lugares específicos que a gente pode ir em segurança aqui em Viamão. Os taxistas sempre sabem que somos Uber e são bem intolerantes com a nossa presença. Por isso, prefiro trabalhar em Porto Alegre, lá conseguimos conviver melhor. Sem contar que prezo sempre por manter o carro limpo e em boas condições e aqui tem muitas ruas que ainda não estão asfaltadas e o acesso é quase impossível. Uma vez eu não pude retornar e tive que fazer tudo de ré.
Com dedicação ao ofício, Ruan trabalha dez horas por dia e faz em média 20 corridas.
— É bastante cansativo, o trânsito tem muita gente imprudente. Mas, compensa bastante você poder fazer o seu horário. Dá pra ganhar um dinheiro legal. Eu entendo o lado dos taxistas, mas não estamos ali no ponto deles roubando clientes, foi uma escolha do próprio passageiro nos chamar — diz Ruan.
Entra dinheiro, aumentam assaltos
Desde novembro do ano passado, o Uber passou a aceitar dinheiro. Para Ruan, apesar do aumento na procura pela serviço, a novidade não foi uma vantagem para os motoristas.
— Agora somos alvo de assalto, assim como os taxistas. Antes, o medo era só de que levassem o carro e de sofrer violência. Além disso, temos que nos preocupar com o troco.
Ele alerta ainda a todos os usuários que sempre chamem o Uber através do aplicativo.
— É comum vermos em grupos de redes sociais as pessoas pedindo o número de Uber. A forma mais segura, tanto para o passageiro, quanto para o motorista, é através do aplicativo. Além disso, pelo aplicativo você sabe antes quanto irá gastar. Pelo telefone, nem sempre podem lhe cobrar o justo.
"O Uber vai acabar"
Ruan se prepara para o Uber ser apenas um trampolim para voos mais altos.
— O Uber vai acabar, como tudo que é ligado à tecnologia, fica velho. Daqui um pouco surge alguma coisa melhor, mais revolucionária. Estou aproveitando que está dando dinheiro e quero fazer faculdade de psicologia.
Cabify corre por fora
O Cabify foi fundado em 2011 na Espanha e desde a metade do ano passado já está presente no Brasil e operando em Porto Alegre. Mais rígido do que o Uber, a princípio, será apenas uma modalidade de carros em funcionamento na cidade, o Cabify Light, com carros de até cinco anos e majoritariamente modelos sedans.
— Eles são bem mais rígidos nos critérios para entrar na empresa. Os carros são melhores e o serviço já está superando o Uber na qualidade. Muitos taxistas migraram para o Uber e não entenderam o espírito de atendimento.