No JN: Lula não é deus ou o diabo, é um presidente necessário; E, queiramos ou não, inocente

Lula no JN com William Bonner e Renata Vasconcellos | Foto Marcos Serra Lima | g1

Goste-se do ex-presidente ou não, identifique-se com o lado da ferradura ideológica que for, mas a entrevista ao JN só confirmou que Lula é um presidente necessário para o Brasil de hoje; um pacificador, um refém da democracia.

Não restou resquícios da farsa dos ‘dois extremos’; e inevitável é a comparação com a entrevista de Bolsonaro, que tratei em A maior entre as mentiras de Bolsonaro no JN; As tchuchucas da economia.

Lembrou-me fala do correspondente internacional Pepe Escobar, que na semana passada ao falar sobre o futuro papel de Lula como reconstrutor do Brasil e líder do Sul Global, lembrou o impacto que tem em culturas sofisticadas como as asiáticas – e por aí passa o novo mundo – Lula ter ficado preso injustamente por 580 dias.

Foi como um rito de passagem para sabedoria. A construção da personagem histórica, de um dos maiores líderes políticos mundiais do século 21, isolado em uma célula só consigo próprio, meditando sobre sua condição, o que está em volta e o que fará quando sair; estudando.

Ressurgir na vida nacional sem rancores, sem ódio, feliz e empolgado, falando em conversar, em adversários e não inimigos, reconhecendo erros seus, e dos seus, como Dilma ou o MST, mas não repassando responsabilidades, não é coisa que um fraco de caráter, ou criminoso comum fosse capaz.

Lula passou longe de “bobagens ideológicas que não enchem barriga, mas atrapalham a comunhão entre as pessoas, e em consequência influencia decisões econômicas, tanto de curto prazo, ao afetar os humores do dia a dia de trabalhadores e empresas, quanto de longo prazo, porque define investimentos públicos e privados em um país“; e aqui usei palavras do economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e um dos queridinhos do mercado.

Lula não é deus ou diabo. Possivelmente não conseguirá repetir o sucesso dos primeiros governos, devido à bomba fiscal de, conforme o Estadão, quase meio trilhão, que vai herdar de Bolsonaro caso vença a eleição. Mas é um político necessário para a alma do país neste momento.

E, queiramos ou não, é inocente, tanto quanto Bonner, Renata, eu ou (talvez) você. Não porque a Globo reconheceu, fechando a tampa da lata de lixo da história com um ‘juiz ladrão’ lá dentro, mas sim porque é o que rege nossa Constituição: quem não tem condenações, culpado não é.

Essas são minhas considerações observando nosso Zeitgeist, o ‘espírito do tempo’, que reputo contagiado por uma doença que precisamos tratar.

Na análise técnica da entrevista, associo-me ao jornalista Reinaldo Azevedo, insuspeito autor de ‘O País dos Petralhas’.

Claro que isto será tomado como declaração de voto. Estou cantando e andando. Como na música, “quem sabe de mim sou eu”. Lula não concedeu uma entrevista, mas fez uma exibição de gala.

Posso discordar disso ou daquilo, mas a entrevista é dele, não minha. SEM ERROS. Enfrentou bem a bateria “Lava Jato/Corrupção”; acertou ao não se comprometer com a lista tríplice para a PGR (não está na Constituição); lembrou independência de MPF e PF nos governos do PT; perguntou à queima-roupa e com acerto se orçamento secreto não é o verdadeiro mensalão; falou o tempo todo em negociação e exaltou Alckmin, parceiro de governo; disse que divergência é apanágio da política; com requinte, observou que divergências não há no PC chinês ou cubano; exaltou o agro que produz, não o pistoleiro que desmata.

É esse o extremista que Bolsonaro vende aos empresários? É contra esse que pistoleiros falam em golpe?

Não sei se ganha ou perde votos; não sei que peso terá no conjunto da obra. Meu comentário não é aferição do que se diz por aí. É só o que penso do que vi.

E aí, Bolsonaro? Vai ou não ao debate?

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