Publicada em 17/12/2020 às 00h| Atualizada em 23/12/2020 às 11h59
Mais uma vez nesse 2020 que parece interminável de tão exaustivo, a população de Viamão se vê nas páginas policiais. Hoje (17) foi despertada por sirenes de viaturas - e moradores do Centro acordaram asustados com o barulho de helicóptero (mas ao que se sabe era de outra operação) - rumando para uma Unidade Básica de Saúde. Lá, a coordenadora acabou detida em operação liderada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE). O companheiro dela, suplente de vereador pelo MDB, também foi levado pelas autoridades.
Na terceira operação envolvendo políticos do município em 10 meses, o centro do Executivo não está sob suspeita. Contudo, as investigações apontam para o uso da máquina pública em benefício de um candidato. A Promotoria Eleitoral de Viamão (59ª Zona) entende que o casal em questão montou um esquema para exigir apoio de funcionários da UBS durante a campanha.
Os mandados de busca e apreensão resultaram em computadores, anotações documentos e celulares recolhidos para perícia. No carro da suspeita, caixas e mais caixas de medicamentos sem procedência comprovada.
Segundo a promotora Márcia Regina Nunes Villanova, a coordenadora da unidade de Saúde se valia do cargo público para obrigar os funcionários a panfletar e a coletar dados dos pacientes - procurados depois em busca de votos. Quem se negava a colaborar com a candidatura, era ameaçado com a perda do trabalho na UBS. As intimidações eram seguidas de um "fica a dica", termo com o qual o MPE batizou a operação.
Enquanto a Polícia Civil investiga origem e destino dos medicamentos, e o MP trabalha para finalizar sua denúncia, vale lembrar que o casal já foi liberado após provas coletadas e ocorrências registradas em delegacia. Até um desfecho, só resta especular.
Aqui vai:
Espanta a mim o fato de que todo o "esquema" criado resultou em menos de 300 votos. E por menor que seja o total, lembrem que será anulado pela Justiça Eleitoral caso comprovadas as ilegalidades. Não sou bom de conta, isso deixo para os entendidos em eleição, junto com a pergunta: essa soma faria falta ao coeficiente eleitoral do MDB? Mexeria com alguma cadeira na Câmara?
No aguardo das respostas, retomo o raciocínio do abre desse texto: pobre povo de Viamão que novamente resta maculado em âmbito estadual por conta de seus agentes políticos e públicos. Foi assim na Operação Capital, que afastou o prefeito da cidade, secretários e um vereador, repetiu-se na Pegadas, com a prisão de Sérgio Ângelo, e chega hoje na "Fica a Dica", desmoralizando a Velha Capital mais um pouco.
Crise nas terceirizadas da Saúde; problemas na varrição de ruas; atrasos em pagamentos; desorganização administrativa; decretos assinados sem ler; dão aumento ao funcionalismo, depois tiram; prisão de parlamentar; guerra de vaidades na Câmara; entra e sai de prefeitos; morte do vice-prefeito; pandemia; campanha eleitoral... ufa... 2020 não veio para brincadeiras e - teimosamente - insiste em dar o "ar da graça" mesmo em seus últimos suspiros.
A "cereja do bolo" é o silêncio da Prefeitura: um dia pesado como esse, mais uma operação em uma de suas dependências, um servidor sob suspeita, e nada de nota oficial... nenhuma linha ao menos. Consultei dois assessores durante a tarde - um da comunicação e um do gabinete. Nenhum deles sequer deu retorno.
Enfim, é um ano que dificilmente será esquecido por quem vive nessa Viamão que, definitivamente, não é para os fracos.
O Diário de Viamão consultou o Ministério Público sobre a divulgação dos nomes dos envolvidos. Conforme a assessoria de Imprensa, as identidades dos alvos da operação não serão liberadas por conta da lei federal de abuso de autoridade.
A coluna teve acesso aos nomes dos suspeitos, porém não os divulgará até que ambos ou seus advogados se manifestem.
Cristiano Abreu
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