Não posso mais me desculpar, não quero mais me desculpar… por existir como quero, por ir embora ou ficar. Não quero mais me desculpar por passar do ponto, dançar descalça ou manchar a roupa de tinta.
Não quero mais me desculpar, não posso mais me desculpar… por ser quem sou, do modo como sou, querendo o que quero e sendo reconhecida por isto. Não quero mais me desculpar pelo brilho que invade o meu ser, pela beleza que atraio, pela sombra que atraio.
Não quero mais me desculpar por ver o sol nascer, virar a noite, por falar com um desconhecido que virou amigo. Não posso mais me desculpar por levantar da mesa, por nunca mais voltar para lá.
Não quero mais me desculpar por estar farta, por decidir algo sem pedir opinião, por caminhar sozinha. Não posso mais me desculpar por ser autêntica, expositiva, de presença potente.
Não quero mais me desculpar por sangrar, por amar demais ou de menos. Não posso mais me desculpar por não entrar no vestido, nem no casamento e nem dentro de casa com os filhos.
Não quero mais me desculpar por não responder aquela mensagem ou atender aquela ligação, saindo sem rumo me levando para passear. Não quero mais me desculpar por estar infinitamente exausta do meio termo, daquilo que parece, mas não é, do café frio e do chá morno.
Não quero mais me desculpar por coisas que não precisam ser justificadas a ninguém. Não quero mais me desculpar mesmo quando estou certa, quando sou eu quem está machucada, quando é a minha dor que não foi reconhecida.
Não quero mais me desculpar por me desculpar, porque a palavra desculpa dita repetidas vezes inferioriza a mulher determinada que existe em mim. Não quero mais me desculpar, não posso mais me desculpar. Porque a mulher que nasce em mim, se recusa a pedir desculpas sem razão, quando na verdade ela só está sendo tão potente e forte quanto ela foi criada para ser.