Os eSports querem ser tudo ao mesmo tempo, para ganhar em todos os lados

Recomendamos o artigo do jornalista Demétrio Vecchioli, publicado pelo UOL


Ao dizer que eSports é entretenimento, não esporte, Ana Moser causou enorme burburinho na comunidade gamer. Maior streamer do mundo, Gaules foi um dos que reclamaram. Provocou anunciando uma “live do entretenimento” e, nela, disse que o setor “não precisa dessa galera para dizer se é esporte ou não”.

Concordo com ele. Os eSports não precisam de regulação para serem entendidos como esporte pelo público. Mas acho que seria muito melhor continuar sendo entendido como entretenimento. Ou cultura. Ou tecnologia. Ou tudo ao mesmo tempo, como já é.

Foi por entender que eSports é entretenimento que o Banco do Brasil, por exemplo, entrou de cabeça no patrocínio ao setor. O relatório de administração do banco diz isso. “Os jogos eletrônicos representam hoje a maior indústria de entretenimento e o Brasil é o terceiro maior público desse segmento no mundo”, explicou o banco.

Quando o BB entendeu que eSports é entretenimento, foi atrás de investir em marcas de peso do setor. Acabou patrocinando, entre outros, o próprio Gaules, e campeonatos que receberam aportes dignos de grandes shows. Uma verba que não existe, e nunca existiu, para o esporte.

Pessoalmente, eu não tenho opinião formada se os esportes eletrônicos são, ou não, esporte. Tendo a achar que podem ser. Mas acho que o setor não pode tentar se encaixar em uma caixinha ou outra, dependendo do que oferecer mais benefício.

Se jogar LOL é um esporte, como o tênis, então um console deve ter o mesmo tipo de tributação de uma raquete. Ambos são o instrumento de prática esportiva do atleta. Mas o setor conseguiu, no Congresso, o mesmo tratamento dado a computadores e outros produtos de informática.

Um computador montado para um gamer tem taxa 0 de Imposto de Importação (II) e de apenas 1,3% de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI). Para uma raquete de tênis, o II é de 16%, e o IPI de 13%. São os mesmos tributos de qualquer bola, por exemplo. Neste caso, não é interessante para o setor de esportes eletrônicos ter o mesmo tratamento (ruim) dos esportes.

É a mesma lógica para eventos. Se bancados pela Lei de Incentivo ao Esporte, eles podem receber doação de até 2% do Imposto de Renda devido por uma empresa. Muito melhor ser como já é: desde 2011 o setor é entendido como manifestação cultural e, por isso, pode apresentar projetos para a Lei de Incentivo à Cultura (a Rouanet), que permite doar até 4% do IRPF.

Se entendido como esporte, os eSports têm nada, ou muito pouco, a ganhar. O ministério é dos mais pobres da Esplanada, com orçamento de apenas R$ 190 milhões deixado por Bolsonaro, a Bolsa Atleta não tem reajuste há mais de uma década, e os patrocínios são escassos.

No máximo podem ganhar uma inclusão nos Jogos Olímpicos, o que passa por as desenvolvedoras dos games entregarem a regulação das competições para uma federação internacional, abrindo mão, também, do dinheiro envolvido nessas competições. O que também não parece ser um bom negócio.

Não é por que a legislação esportiva pode não vir a entender eSports como esporte que o setor deixará de ter atenção e investimento do poder público. Já tem patrocínio estatal, muitas (e põe muitas nisso) facilidades tributárias, acesso a leis de incentivo… Parece só uma questão de ego.

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