875 pessoas esperam por um rim no RS

O ano é 2009 e uma adolescente procura o hospital com náuseas e pede um exame de gravidez. Este poderia ser o começo de qualquer história sobre gravidez na adolescência que eu e você tanto ouvimos por aí. Poderia mas não é. Na visita ao médico, Luana Gomes descobriu que não se tratava de uma gestação indesejada e sim de algo muito pior: seus rins haviam se atrofiado e ela precisaria ser internada às pressas para sobreviver enquanto esperaria por um doador.

Hoje, dia nacional de doação de órgãos 875 pessoas aguardam, enquanto você lê esta matéria, por um transplante de rim no Rio Grande do Sul, o terceiro estado que mais doa órgãos no Brasil. A fila para o transplante de rins é muito maior que o segundo colocado, fígado com 145 pessoas ou o terceiro pulmão, com 85 pacientes esperando por um transplante. A justificativa para a diferença gritante é simples e preocupante: as pessoas sobrevivem por muito mais tempo com um rim comprometido do que com os outros órgãos e um grande aliado destes pacientes é a hemodiálise.

Entre a descoberta da doença e o transplante foram seis meses de espera e de muita hemodiálise para Luana. O procedimento é dolorido e consiste em ligar o paciente em uma máquina que retira o sangue, filtra como se fosse o rim, e devolve para o corpo novamente. A hemodiálise é demorada e invasiva, mas é a única saída para quem aguarda um órgão, que pode demorar anos para chegar. Como Luana tinha apenas 17 anos quando descobriu a insuficiência renal crônica recebeu prioridade na fila de transplantados.

A doação de órgãos só pode ser realizada quando o doador tem morte cerebral ou seja, o cérebro para de funcionar mas outros órgãos como coração e pulmões conseguem manter suas atividades, seja com o auxílio de máquinas e medicamentos, ou sozinhos. A morte encefálica não é a mesma coisa que o coma. No primeiro o paciente já morreu, no segundo não.

Antigamente para virar doador a pessoa precisava ir até a delegacia ou secretaria de segurança pública para acrescentar nos documentos de identidade a informação, que era gravada em letras maiúsculas e tinta vermelha. Hoje basta ter uma conversa franca com a família e manifestar este desejo pois é ela quem vai tomar a decisão quando, e se, a morte cerebral for diagnosticada. No caso de Luana a família nunca recebeu informações oficiais sobre o doador, mas suspeitam que o órgão tenha vindo de um garoto de 14 anos que faleceu naquele mesmo dia vítima de bala perdida. No Rio Grande do Sul mais da metade das famílias diz não à doação de órgãos, em 2017 foram apenas 191 sins.

 

Luana comemorando com amigos e familiares os sete anos de transplante.

 

Oito anos depois do transplante Luana vive uma vida normal, é corretora de imóveis e no ano passado deu uma festa para comemorar os sete anos do transplante. A moradora do centro de Viamão não teve sintomas de rejeição, apenas pequenos inconvenientes como os seis remédios que toma diariamente e o tratamento de três a cinco infecções urinárias por ano, nada comparado ao tempo em que ficou na fila.     

"Preciso agradecer aquela mãe que aceitou doar os órgãos de seu filho, pois no momento mais doloroso da vida dela, ela teve a sensibilidade e coração de também pensar na dor daquelas tantas pessoas que estavam em uma fila à espera de um órgão para que suas vidas continuassem. Queria muito que todas as pessoas que de alguma forma são contra a doação, entrassem um dia em uma sessão de hemodialise e visse o quão doloroso é – conta Luana.

 

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