A Brigada Militar não será cúmplice de arruaças bolsonaristas dia 7; O Jim Jones de meio milhão de mortos

A Brigada Militar gaúcha não pode se amotinar, não se deixar contaminar pela polarização política. A preocupação deve ser com a preservação da ordem pública, a segurança, a vida e o bem estar das pessoas, ao assegurar o cumprimento da Constituição Federal.

Em tempos de ‘guerra civil’ incitada e que ganha as manchetes nacionais a partir da convocação de comandante da PM paulista para a manifestação bolsonarista de 7 de setembro e alertas feitos a governadores por setores de inteligência de polícias civis estaduais, vale lembrar que motim é crime.

A Brigada é uma instituição que se orgulha de preservar tradições, portanto não tenho dúvidas de que cumprirá suas funções constitucionais de forma disciplinada. Como instituição legalista que é.

Estabelece o artigo 144 da Constituição Federal, na seção da “Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”, que a PM deve exercer “a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”.

Para quem não acompanhou, a polêmica ganhou o país após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afastar o comandante da Polícia Militar e chefe do Comando de Policiamento do Interior-7, coronel Aleksander Lacerda, por ato de indisciplina. Nas redes sociais o PM incitou comandados e colegas ao protesto, fez ameaças ao Supremo Tribunal Federal e postou: “Nenhum liberal de talco no bumbum consegue derrubar a hegemonia esquerdista no Brasil. Precisamos de um tanque, não de um carrinho de sorvete”.
O militar também postou uma foto do ministro do STF Alexandre de Moraes como Adolph Hitler, antes de deletar as redes sociais após as publicações repercutirem na imprensa.

Conforme o Correio Braziliense, vaquinhas entre polícias militares arrecadam fundos para a manifestação. Neste domingo, o coronel da reserva da Policia Militar de São Paulo Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, indicado pelo amigo Jair Bolsonaro para presidir a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), divulgou vídeo nas redes sociais em que convoca policiais militares a se unirem em apoio ao ato.

– Não podemos, nesse momento em que o país passa por essa crise, em que nós percebemos o comunismo querendo entrar de forma lenta, trabalhada ao longo dos anos, eles vêm implantando, mudando o ensino, querendo mudar o nosso país. E vejo que nós, a Polícia militar de São Paulo, a força pública, nós devemos nos unir – disse.

Um dos porta-vozes do conservadorismo no país, o Clube Militar do Rio de Janeiro também convocou “sócios e amigos” para marchar a favor de Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal no próximo dia 7.

Frente aos delírios, Flávio Dino, do Maranhão, também manifestou preocupação, após falar com colegas governadores. Ele disse ao UOL que diante dos últimos posicionamentos do presidente "tudo indica" que tentem invadir o Congresso Nacional ou o STF em uma tentativa de golpe.

– Acho que a atitude nesse momento deve ser de serenidade, porém, de firmeza porque mesmo que ele (Bolsonaro) não tenha êxito nessas tentativas de invadir o Congresso, invadir o Supremo, coisas desse tipo, tudo indica que algo desse tipo será tentado. E ao tentar, já há vítimas. Nós vimos isso no Capitólio, nos EUA. E temos que evitar essa confrontação entre brasileiros. A paz deve prevalecer, o respeito às regras da democracia deve prevalecer – disse o governador, que é juiz federal de carreira.

Ao fim, acredito que a população de Viamão pode ficar tranquila frente a eventuais arraças golpistas no dia 7 de setembro. E, como tratei na abertura do artigo, o comando-geral da BM seguirá a Constituição, não exito em repetir.

Como está registrado como glória na história da BM, o Regimento Bento Gonçalves protegeu o Palácio Piratini, a Assembleia Legislativa e a Praça da Matriz, onde se concentraram mais de 50 mil pessoas. Os brigadianos ocuparam telhados do Piratini, da Catedral Metropolitana e edifícios ao redor Matriz, montando barricadas e armando metralhadoras para evitar o ataque ao governador Leonel Brizola – e à democracia – adiando em dois anos o golpe de 64.

Ao fim, o que parece uma distopia, um delírio histórico quando temos mais de meio milhão de mortes sob a cumplicidade do deprimente da república, ganha contornos de Jonestown, quando em 1978 o fanático Jim Jones conduziu ao suicídio, e ‘suicidou’, 900 seguidores de sua seita.

 As palavras tem força de ferir e até matar. O zap se apaga, os likes se vão, mas a História, com hagá maiúsculo, um dia cobra. E a cadeia será o lugar dos responsáveis por derramar sangue brasileiro em vão.

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