Um ar frio deixava a noite com ares de inverno. No céu nenhuma lua. Um breu. Um eu transformava aquela inquietação numa estória. Aos poucos e na escuridão, surgem dois pontinhos brancos em frente ao mar. Deveria ser umas nove horas da noite. Nenhum silêncio era mais perturbador do que aquele. As pessoas, provavelmente estariam vendo noticiários na televisão ou dormindo cedo. Hábito dos esportistas. Hábito daqueles de mentes saudáveis.
Caminho alguns passos. Acendo um cigarro e olho a praia. Muitos pontinhos brancos vão aos poucos completando a paisagem e se espalhando na areia. De repente e subitamente muitos outros pontos surgem. São eles. Os pássaros dançantes. Noturnos e enigmáticos. Cantam, sobrevoando o mar. Em bandos navegam por sobre as ondas. Num compasso mágico e surpreendente. Quem são? Para onde vão? O que significa toda este bailado e agitação?
Não sei. Ou não tenho conhecimento da biodiversidade marinha. Mas aos meus olhos, formam um espetáculo único. Minha cabeça brasileira de parcos conhecimentos, só enxerga o belo. Não sou inglesa nem tenho a mente privilegiada como os médicos que estudam a inteligência humana. Mas sei que estou perto de um grande espetáculo proporcionado pela natureza. Natureza esta, que grita,expande e me dá a dimensão exata de beleza. O que pode ter maior importância,do que muitos pássaros reunidos na noite do mar?
Caminho na areia molhada e meu cigarro já está quase consumido.Junto-me a cantoria dos pássaros que em sobressaltos voam por cima da espuma do mar. Que espetáculo! Que solidão a minha! Sinto-me um ser iluminado. Por participar e ver tamanho episódio noturno. Que a maioria das pessoas nem sabe que existe. Dormem, dispersam-se. Onde estará ele? Meu amigo inteligente e único? Perdeu o espetáculo das gaivotas.Mas em compensação, admira os versos dos compositores estrangeiros. Que tanto quanto as gaivotas, dão sentido à vida. Encantadora e sublime vida. (Ana D´Avila)