Alice Chala | Infinitos Processos

Acredito que todo escritor/escritora já passou por um momento desértico, em que nada vem, e tudo o que vem parece pouco, feio, desajustado ou sem coerência. Um momento em que as frases não combinam, as palavras se estranham, e o ponto final parece estar empregado erroneamente.

Na vida, passamos muito mais tempo olhando o que está errado e do que revisitando com carinho nossas conquistas, jornadas.  

Nos meus textos, sempre procurei ser sincera, mesmo com dificuldade para me expressar. Escrever em primeira pessoa é difícil, e requer uma autoanálise muito desafiadora. 

Quem escreve sabe o quão árdua é a tarefa de olhar para si e tirar algo bonito e inspirador para externar. Fazer com que as pessoas se emocionem, identifiquem-se com algum processo que embora muito pessoal, também possa soar universal aos olhos de quem lê. É verdade que todos nós sentimos, e sentimos muito…

Traduzir os sentimentos, reconhecer seus significados e investigar questões profundas. Traduzir com simplicidade, com uma linguagem acessível e também poética: difícil, desafiador.

Hoje me peguei pensando para quem eu escrevo, e me respondi que escrevo para mim e para os outros. Escrevo para mim, com o objetivo de me conhecer. E para os outros, com o objetivo de me aproximar e me humanizar. 

O cotidiano muitas vezes nos robotiza, sistematiza nossas ações, esquecemo-nos de olhar a vista. Eu mesma me esqueço, mesmo quando estou imersa em momentos bons e prazerosos.

A escrita aproxima. Clarice Lispector criticava a falta de proximidade que há entre o/a colunista/cronista e o leitor. Quem dera pudéssemos ser mais íntimos como nos livros, e dar as mãos quando as coisas não vão bem. 

Quem dera pudéssemos viver dentro desses pequenos espaços de texto, onde está tudo formatado, e tudo o que é difícil de dizer… Vira lição de vida!Quem dera eu não parasse de escrever um só dia, e que o ritmo fosse linear. A vida linear. Uma piada pronta.

Estive por aí, me perguntando e solucionando meus infinitos “porquês”. Estive entre essas noites que não acabam nunca e os días de sol que queimam a pele. Estive amando, e amando muito. Aprendendo a amar, porque o amor não acaba, se reinventa.

Estive todo esse tempo em uma obscenidade muito minha, uma miscelânea de luz e trevas. Aquilo que as crônicas não contam, mas que a vida dá, e como dá! Quem dera pudéssemos atravessar essa barreira e encontrar-nos, falar dos problemas e das alegrias também. 

É claro que depois de dose ou outra, questionar a razão de ser, para numa esquina algum amigo próximo perguntar: tu tens escrito com frequência? Rememorar os atos antigos, desatar os nós. Todos os dias em um processo que não finda, mas que muito ensina. Muito ensina.

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