Desde a primeira vez que te visitei, percebi que a água era calma e boa de entrar. De longe, pude ver que o local era seguro, e a brisa que corria nunca era prenúncio de tempestade, mas de chuva amena, daquelas que lavam a alma.
Quando entrei, senti que não era nada raso, me surpreendi com tamanha profundidade, não esperava tanto. Ali contigo, ouvi coisas que nunca tinha ouvido antes, e resgatei alguma parte de mim que pensei ter morrido.
Depois de um tempo, me soltei um pouco mais, ainda que com medo de me afogar. Depois de um tempo, reparei nas tuas âncoras, fincadas na areia. Depois de um tempo, reparei como me olhava de volta, sempre esperando algo mais.
Com relutância, me entreguei. E então, senti que nunca tinha conhecido nada parecido antes.
Acostumada com a turbulência, mares perigosos que nunca me asseguraram de nada. Acostumada em não dar pé, treinada para nadar sem bóia. Quando cheguei nesse teu mar, pensei que sabia alguma coisa sobre as águas que ali estavam.
Quando cheguei nesse teu mar, entrei esperando um afogamento súbito, daqueles de antes…Que me deixavam sem ar.
Nesse meio tempo, te vi tão mesclado a esse meu pré-julgamento. Eu quis voltar, deixar esse Porto. Quis fugir para a trilha que tanto me doeu os pés, mas que era tão conhecida.
Respirei fundo, e o que respirei foi o ar da tua brisa leve. Não era tempo ruim, e eu não quis correr. Fiquei e quis te conhecer, como quem desbrava, como quem observa.
Um dia, decidi fazer morada. Ali fazia sol, eu podia descansar, sentir o teu calor e a tua luz. Ali as águas não inspiravam perigo, só mudança de fluxo. Ali a vida parecia correr segura, e o tempo não era uma ameaça. Andei quilômetros contigo, e deixei para trás aquelas velhas certezas que pesavam na bagagem. Estávamos sós, mas a água era boa de entrar e na margem, dava pé.