Enfileirados um a um, respeitando os dois metros entre eles, postavam-se a espera da vacina. Era muita gente. O posto de Saúde distribuía senhas na entrada. O guarda da prefeitura encarregado deste serviço, em voz alta, ia chamando o pessoal. As pessoas que se vacinariam estavam na faixa dos 41 anos.
Lá dentro, enfermeiras atentas seguiam sua rotina. Um guri de abrigo colorido, com a cabeça coberta por capuz, parecendo meio alienado adentrou a faixa de entrada. Foi até ao guarda e sentenciou:
– Quero fazer a vacina.
Os que esperavam se olharam surpresos. O guarda retrucou:
– Quantos anos tu tens?
O guri:
– Dezoito.
O guarda comunicou que as vacinas eram feitas conforme a idade estabelecida.
O guri puxou para trás o capuz do seu abrigo. Escabelado e atônito, respondeu: arãm”. Parecendo um destes caras "fora da casinha". “Arãm”, mais uma vez, e foi se retirando com sua bicicleta violeta pelas ruas úmidas naquele início da manhã. Seria ele desligado da Internet? Não acompanhava o site da prefeitura, que divulga semanalmente as datas da vacinação?
Na fila da vacina, moças quarentonas e expectativas. Todos estavam ali para a primeira dose. Rindo e contando piadas. Talvez ao estilo do guri desligado que queria se vacinar na adolescência. Duas mulheres foram chamadas. Já na entrada, foram desabotoando seus casacos. Uma delas tinha o celular à mostra. Entrou junto, para fotografar o momento. Precisava mostrar na página da rede social, a amiga no ato da vacinação.
Um clique e pronto. Fez a imagem e postou no Face e no Instagram. As duas saíram do posto de Saúde expressando felicidade.
O privilégio de se vacinar no conturbado momento da pandemia era além de uma alegria, uma satisfação digna de registro. A fila andava lentamente. As cinquenta doses da vacina foram distribuídas com exatidão naquele singelo e pequeno município do Rio Grande do Sul.
