Ana D´Avila | A Última Veranista

Depois do domingo tórrido,o temporal. O tempo rapidamente mudou. Já não fazia calor. Na televisão, notícias ruins. Pessoas brigando. Violência campeando. E um ditador enfurecido fazendo a população sofrer.Caminhando pela chuva, na companhia de sua linda sombrinha azul, ela acompanhou o mar.

Não que o mar fizesse mal. Bem ao contrário. Lhe proporcionava uma grande alegria e harmonia intensa.Mas agora, todos foram embora. Portando mochilas,malas e travesseiros entupiam o porta-mala dos carros.Rumavam para suas cidades. O ar estava frio e as pessoas, num passe de mágica, iam desaparecendo.

O que deprimia era saber que não veria mais aquela multidão ao sol. Agora viria o outono e o inverno. Não veria por um bom tempo, nem surfistas de pele cor de canela nem gúrias de corpos perfeitos fazendo festa na praia. Nem crianças construíndo castelos na areia. Nem vendedores ambulantes no eterno comércio à beira-mar.A praia sem gente imputava um ar bastante melancólico. E aquela chuva fininha batendo em sua sombrinha deixava tudo ainda mais triste.

Num quiosque com os guarda-sóis quase desativados,surge uma atendente. Mas não tinha a quem atender. Ninguém lhe pedia cerveja, caipirinha ou uma troca de música no som mecânico. Nem a “Jennifer” foi sugerida. Não se ouvia mais Armandinho, Roberto Carlos ou Raul Seixas.Tudo estava párado. Sem a satisfação que a música trás.

O mar continuava embalando as ondas, como sempre fez.Acompanhado agora pela sisudez do clima. Chovia,fazia frio e ventava. Tudo no céu era cinza.Ali,um vento esquecido e um friozinho tímido. Teresa, da praia, era a última veranista. E já estava ficando deprimida com o cenário que presenciava. Era a última semana de suas férias.

Para onde vão todos depois do verão e o que farão de suas vidas, indagava ela.Depois sentou na cafeteria. A melhor da praia. Pediu café e um quiche de queijo.Saboreou. Pensou na praia deserta. Totalmente urbana sentiu neste momento uma saudade das sirenes,buzinas,vozes altas e toda loucura da sua cidade.E das pessoas e suas tribos. Piercings,cabelos azuis e rosas,tias assumindo cabelos brancos e até do cachorro da vizinha fazendo xixi na entrada do prédio.

Como a última veranista, fechou seu apartamento e também deixou o litoral. Com a água da chuva mais intensa fez sua última imagem na câmera do celular. Postou. Neste dia, parecia chorar.(Ana D´Avila)

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Compartilhe esta notícia:

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade

Facebook