Ana D´Avila | A viagem

Não era propriamente uma viagem. Era uma fuga. O Aeroporto fervilhava de passageiros internacionais. Não havia pandemia. O ritmo dos embarques seguia dentro da normalidade. Ela apanhou seu computador portátil e seguiu viagem. Para além de tudo que a fazia chorar. Na Europa, descanso de sua vida agitada. E a necessidade de criações literárias. Não planejava mais do que isto. Silêncio,  descobertas e a ausência de problemas  passionais.

 No bolso, seu velho passaporte e na cabeça inúmeras ideias. Estava só. Tão só como quando nasceu. No saguão da cafeteria, muitos idiomas e um café de Angola. Bem encorpado e quente. Que foi degustado com o prazer de sua chegada. Ao som eletrônico de um  fado e sob a exuberante vista do Tejo.  Estava  longe do Brasil, sua terra, seu chão.

O que não escapava aos seus olhos era a visão daquela cidade cheia de estórias. E de um País assombrado. Por tantos fantasmas. Que viviam ali, entre o mofo de seus palácios e a modernidade estampada no Shopping das Amoreiras. A atração maior era a Torre de Belém. Dali partiam os aventureiros do mar . Era um símbolo encravado nas terras portuguesas. Assim como o Castelo de São Jorge e outros lugares turísticos.

 No Centro de Lisboa, um comércio bastante diversificado. Roupas italianas e souvenirs espanhóis . Ao longe, seguia um grupo de motociclistas alemães. Com seus motores barulhentos  e movimentando a paisagem. Tão culturalmente profunda. Tão Fernando Pessoa. Tão hermeticamente fechada entre os grandes pensadores. Homens que poetavam, filosofavam e entendiam civilizadamente a vida e seus propósitos.

Não era uma viagem comum. Era um aprendizado. Ali tudo se modificou. Maneira de pensar e de sobreviver no caos de um soneto de Fernando Pessoa. Frequentador do Café A Brasileira e de sua eterna cadeira, exposta e construída em sua homenagem.   Não havia tempo para o ócio . Tudo acrescentava conhecimentos. Tudo a fazia pensar. A juventude portuguesa pensava. Seus diálogos na cafeteria eram de muita profundidade. Discutiam autores. Entre  eles, Fernando Pessoa .No Brasil, discussões. Mas vãs. Sobre futebol, cerveja e mulheres. Um óbvio, às vezes até desnecessários.

O imenso boeing taxiava no aeroporto. Lá embaixo a Iha da Madeira,  parecia um vulcão expelindo lavas. Uma professora universitária espantava a solidão com um novo amigo. Conhecido no avião e que muito a decepcionou. Era quase um analfabeto. Não acrescentava quase nada a sua vida. Mas era divertido. O jantar foi servido. Com muito vinho de Vila Nova de Gaia e muita esperança. De que o mundo pudesse ter alcançado a glória. E que a viajante esquecesse todas as mazelas. Em meio ao sofrimento e angústia da existência humana.(Ana D´Avila)

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