Ana D´Avila | Janela Indiscreta

Eram um tanto hippies. Viviam no lema “Paz e Amor” e naquele sábado

resolveram, de sua janelinha nada convencional, analisar os passantes e

traçar algumas considerações. O apartamento era térreo e um pequeno

jardim circundava a entrada da casa. Ali, esperando um almocinho caseiro

e saboreando uma cerveja gelada sentaram-se. E, observaram.

Estavam quase em frente ao mar. A praia recebia muitos visitantes. O

Natal se aproximava e todos pareciam estar sedentos de sol, festas e

alegria. Apenas o dia não correspondia. Uma névoa fina vinha da praia e o

céu ia ficando cada vez mais nublado.

Mesmo assim, os visitantes não se intimidaram. Caminhavam de óculos

escuros e cadeirinhas para sentar junto ao mar. A maioria anexava em

suas mochilas mais um ítem: cuias de chimarrão.E mateavam junto à

praça que existia em frente ao apartamento

.

Mulheres sonhando com uma pele bronzeada, insistiam em ficar por ali com suas vestes praianas.Corpos gregos e sarados eram para poucas. A maioria escondia uma

barriguinha em seus caminhares suados e necessários. Era o “rush” da

praia no litoral norte gaúcho.O casal observador por trás da janela

indiscreta não criticava ninguém com maldade. Apenas analisavam. E o

público passante ia ficando cada vez mais interessante. Com seus

maiôs,tangas,sungas e shortinhos.

Muitas pessoas aproveitavam a caminhada pera levar seus cães ao ar livre.

E como eles se divertiam! Caes adoram o prazer que o ambiente esconde,

a areia e alguns, até entram mar adentro, deliciando-se com a água

salgada. Que, entre suas franjas de espuma, transmite a eles, uma alegria

contagiante. Olhando a gente percebe que eles ficam felizes. Sem coleiras,

sem trânsito violento, sem freadas que os amedrontam.

O casal observador curtia a sensação prazerosa da brisa do mar, que

chegava até eles, pelo vão da janela indiscreta. Ali permaneceram boa

parte da manhã. Entre tanta gente que passava, provavelmente com

tantas estórias,vividas e sentidas, eles esvaziaram seus copos de cerveja.Já

preparados para entrar na sala de jantar.

Ao longe, viram um casal na faixa dos 60,70 anos dando asas à

imaginação. Subiram na moto, deram a partida e sumiram na imensidão

daquela rua praiana. Tão expressiva e bonita, com suas gentes de roupas

coloridas. E vontade fazer do sábado, um dia de plena felicidade. (Ana D´Avila)

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