Eram um tanto hippies. Viviam no lema “Paz e Amor” e naquele sábado
resolveram, de sua janelinha nada convencional, analisar os passantes e
traçar algumas considerações. O apartamento era térreo e um pequeno
jardim circundava a entrada da casa. Ali, esperando um almocinho caseiro
e saboreando uma cerveja gelada sentaram-se. E, observaram.
Estavam quase em frente ao mar. A praia recebia muitos visitantes. O
Natal se aproximava e todos pareciam estar sedentos de sol, festas e
alegria. Apenas o dia não correspondia. Uma névoa fina vinha da praia e o
céu ia ficando cada vez mais nublado.
Mesmo assim, os visitantes não se intimidaram. Caminhavam de óculos
escuros e cadeirinhas para sentar junto ao mar. A maioria anexava em
suas mochilas mais um ítem: cuias de chimarrão.E mateavam junto à
praça que existia em frente ao apartamento
.
Mulheres sonhando com uma pele bronzeada, insistiam em ficar por ali com suas vestes praianas.Corpos gregos e sarados eram para poucas. A maioria escondia uma
barriguinha em seus caminhares suados e necessários. Era o “rush” da
praia no litoral norte gaúcho.O casal observador por trás da janela
indiscreta não criticava ninguém com maldade. Apenas analisavam. E o
público passante ia ficando cada vez mais interessante. Com seus
maiôs,tangas,sungas e shortinhos.
Muitas pessoas aproveitavam a caminhada pera levar seus cães ao ar livre.
E como eles se divertiam! Caes adoram o prazer que o ambiente esconde,
a areia e alguns, até entram mar adentro, deliciando-se com a água
salgada. Que, entre suas franjas de espuma, transmite a eles, uma alegria
contagiante. Olhando a gente percebe que eles ficam felizes. Sem coleiras,
sem trânsito violento, sem freadas que os amedrontam.
O casal observador curtia a sensação prazerosa da brisa do mar, que
chegava até eles, pelo vão da janela indiscreta. Ali permaneceram boa
parte da manhã. Entre tanta gente que passava, provavelmente com
tantas estórias,vividas e sentidas, eles esvaziaram seus copos de cerveja.Já
preparados para entrar na sala de jantar.
Ao longe, viram um casal na faixa dos 60,70 anos dando asas à
imaginação. Subiram na moto, deram a partida e sumiram na imensidão
daquela rua praiana. Tão expressiva e bonita, com suas gentes de roupas
coloridas. E vontade fazer do sábado, um dia de plena felicidade. (Ana D´Avila)