Ana D´Avila | Porto Alegre

Agora, Porto Alegre me parece estranha. Desde meu nascimento na Santa Casa de Misericordia, no meio de um Carnaval.Minha mae me teve de parto normal. Ouvindo ali pela Avenida Borges de Medeiros, naquela noite de uma segunda-feira, sons de batucada. Não me impressionei. Nem sei sambar. Mas é estranho nascer no período de Carnaval. Enfim, cresci. Perambulei com meu pai pelas ruas mormacentas de uma Porto Alegre antiga. Onde estudei,trabalhei e me formei em Jornalismo porque queria escrever. 

É o que sempre faço. Meu ofício primeiro em meio ao caos de uma sala poeirenta, cheia de livros e até de  um dicionário antigo chamado Aurelio. Hoje ele é dispensável. Existem ferramentas no Google que te dão outras informações e inserções.Estamos quase no futuro.

Pelo centro da cidade há um odor diferente. Delícias como cafeterias. E também os não muito agradáveis cheiros de carnes e peixes do Marcado Público. Eu me animo a pensar.E a sentir sensações. Tanto de aromas como de lembranças. Trabalhava no Idergs, Instituto de Desenvolvimento Empresarial do Rio Grande do Sul, na Sala de Imprensa da entidade. Ali contemplava a janela da sala que dava para o Guaíba. 

Naquele tempo rio. Hoje dizem que é lago. As águas no inverno, encarpelavam. Na Esquina da Uruguai um vento frio fazia meus olhos lacrimarem. Pegava um ônibus e ia para a casa almoçar. Depois voltava ao trabalho no Centro. Naquela época tudo era mais mansinho,mais pertinho e, em duas horas, já estava de volta à Assessoria. Sempre trabalhei assim. Maioria do tempo em Assessorias. E foram muitas: Fiergs,Advb e outras.

Meu pai era minha figura chave quando o inverno chegava. Lembro muito dele, no Centro comigo. Ora passeando, ora apreciando as enchentes do Guaíba. O muro da Mauá ainda não existia. E aquela imensidão de águas dançantes ate me assustava um pouco. Susto também levei com a explosão da Fábrica de Fogos de Artificio, Fulgor. Eu já trabalhava em Jornal. Jornal da Semana, um semanário do Grupo Sinos de Novo Hamburdo, que se propunha a trazer para os leitores, uma espécie de resenha das notícias locais e estaduais. E a explosão foi minha dificil pauta num inverno desses. Não consegui levantar muitos dados da notícia porque era trágica demais para a minha sensibilidade. De volta à Redação tive que pedir ajuda para o meu chefe de reportagem. Naquela ocasião um rapaz chamado Paulo Burd.

Assim em meio a nova Porto Alegre me sinto levemente antiga. Como se as pessoas e os shopings me transmutasem para uma época que já vivi. E talvez, pouco entenda atualmente. Mas por gostar da minha cidade-nascença eu sempre quero voltar a ela. E algumas amigas e amigos ainda vivem nela. Embora como eu, já estejam de cabelos branquinhos. Como meu pai um dia ficou. E agora, fico eu. Assim, resultado de uma vida. De minha trajetória como gente. Observadora e jornalista. (Ana D´Avila)

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