As mulheres enfileiravam-se para serem atendidas. O café fervilhava nas tardes primaveris. Motivo não faltava. Um atendimento primoroso as esperava. Era o café mais famoso de Porto Alegre.
Por lá, um menu diversificado. E um atendimento “hollywoodiano”. Mas os fregueses raramente eram homens. A maioria, mulheres. De toda espécie e modelo. Altas, baixas, feias, bonitas, loiras, morenas, jovens, idosas e intelectuais.
Pablo, recém chegado de Montevidéu, era garçon na cafeteria. Falava um espanhol rasgado e servia calientes “cafezitos”. Segundo algumas freguesas, o melhor café era “com leche, pan y mantequilla”.
O garçon “hermoso” parecia um “gitano”. Chamava atenção, justamente, por ser uruguaio e bonito. Dava para entender a movimentação das mulheres na cafeteria.
E seus suspiros, quando Pablo se aproximava. Ele tinha tipo atlético. Moreno e alto. Diziam que era gostoso como cheirinho de café recém passado. Realmente, uma atração.
Só trabalhava no período da tarde. A tarefa exigia muito esforço físico. E, equilíbrio, para não derrubar aquelas bandejas todas, atulhadas de cafés, tortas e salgadinhos.
As mulheres se divertiam. Apreciavam a beleza masculina. Lanchavam e, de quebra, testavam o “idioma espanhol”. Uma delas, Maria, pediu a Pablo uma torrada americana para acompanhar o cafezinho.
Pablo, indagou:
— Cuchillo y tenedor?
Maria ruborizou. Ele se referia ao “garfo e faca”. Ela pensou: Porto Alegre é tão perto de Montevidéu, vergonha não saber falar “garfo e faca” em espanhol.
No final da tarde, já exaurido por bandejas, mulheres e cafezinhos, Pablo saiu. Direto para a Feira do Livro, na Praça da Alfândega.
Outro motivo pelo qual era tão admirado pelas mulheres que frequentavam o café. Era mais intelectual do que garçon.
Adquiriu, na Feira, um livro de Mário Benedetti. Grande escritor uruguaio que Pablo conheceu em Montevidéu.
Foi caminhando pela Rua da Praia que Pablo se achou recompensado por mais um dia de alegrias vividas em Porto Alegre. Uma capital interessante e muito, mas muito próxima do Uruguai.
Maria foi pegar seu carro no estacionamento. Ao longe, Pablo, num entusiasmado aceno, bradou:
— Adiós. Volte ao café. Volte sempre ao café — disse ele.
Maria sorriu:
— Si, si, voltarei!