Naquele dia, o sol se revelou. Era verão. E o astro-rei queria mostrar serviço. Digno de todos os calores existentes na face da terra, digno de um registro especial na página de meteorologia dos jornais digitais.
Não era um calorzinho passageiro. Era uma quentura que ficava. Não interessava se fosse de manhazinha ou às três da madrugada. Aquilo batia de frente com todo ser vivente. E por isto os privilegiados providenciaram ventiladores de teto, aparelhos de ar-condicionado e até mesmo ventiladores convencionais.
A manhã seguiu assustadoramente quente. No litoral gaúcho, uma multidão invadia as praias, desconhecendo os perigos de aglomerar diante de uma pandemia que atropelava os incautos. Era guarda-sol encostado em guarda-sol. Parecia um suicídio coletivo. O cúmulo do menosprezo pela vida.
Queriam sombra e água fresca. O mar estava azul neste dia, com ondas medianas deliciando a multidão. Eles não estavam se importando com a covid, já comprovadamente perigosa. Diante do calorão, esqueceram o noticiário e a razão.
Moças de corpos perfeitos desfilavam pela areia. As mais velhas portavam chapéus, dando importância aos males que o sol forte pode causar. De doença de pele a insolação. Muitas das crianças nem estavam tão protegidas quanto deveriam.
Em Portugal qualquer pai na praia protege seus filhos com o básico: roupas leves, chapeuzinho e óculos escuros. Mas estamos no Brasil, e aqui não se dá atenção a assuntos sérios. Pobres crianças brasileiras! Com falhas na educação e proteção de praia imperfeita.
No centro da cidade praiana já havia um cheiro forte de asfalto derretido nas ruas. Os carros pareciam estar com os pneus tostando. As pessoas com testas luminosas de suor intenso, acompanhadas das necessárias máscaras de proteção.
Se o poeta Mario Quintana estivesse vivo, comentaria com certeza, que “estes eram tempos eram bicudos”. E eram. Bicudos e assustadores. Principalmente depois que alguém postou nas redes sociais um alerta geral de que a temperatura não pararia de subir nos próximos cinco dias.
A população, já amedrontada com o dia tórrido, tinha nova preocupação: que o calor se estendesse por toda a semana. Homens pela rua tiravam a camiseta. Ficavam só de bermudas. Mesmo estando perto da imensidão do mar, suportar 40 graus com sensação de mais era uma exaustão. E haja água para a hidratação.
E haja sorvetes e bebidas geladas. Os estoques de água nos supermercados eram reabastecidos a todo o momento. Quando a noitinha chegou, o Astro Rei foi descansar, mas o bafo e a sensação de calor varreram a madrugada. Deixando muito claro, que algo no Planeta está mudando, que a terra está esquentando. E não é invenção de escritor, nem de ecologista.
Está!