Chegar a Buenos Aires foi como abrir um novo capítulo da nossa jornada. A cidade grande, vibrante e intensa contrastava com os dias tranquilos que havíamos vivido até então. O Wilson, com seus 10,7 metros, sentiu o peso do trânsito portenho, e nós também. Mas bastou estacionar em um ponto indicado no aplicativo iOverlander para o caos se transformar em acolhimento.
Foi ali que encontramos, pela primeira vez, uma comunidade de viajantes brasileiros. Apesar de estarmos há pouco tempo fora do Brasil, encontrar pessoas que falavam nossa língua, dividiam as mesmas dúvidas e os mesmos sonhos foi um alívio e uma alegria imensa. Tinha gente de todo o País: São Paulo, Bahia, Aracaju, Paraná… Todos recém-chegados na estrada, como nós, mas com histórias e olhares diferentes. A troca foi intensa. Em pouco tempo, viramos uma grande família nômade.
Aprendemos que o brasileiro, além de criativo e corajoso, é também profundamente unido. E isso fez toda a diferença. E então, como se tudo já não estivesse incrível, chegou um dos momentos mais especiais da nossa viagem até aqui: receber as nossas mães no motorhome.
A visita delas a Buenos Aires foi breve, mas cheia de significado. Apesar de estarmos na estrada há pouco mais de um mês, o reencontro foi emocionante. Era a primeira vez que elas viam, ao vivo, como estávamos vivendo. Embora não tenham experimentado a estrada em movimento, ficaram conosco no ônibus durante todo o fim de semana e viveram intensamente aquela rotina diferente, mas cheia de carinho.
Nenhuma das duas tinha viajado de motorhome antes. A minha mãe, inclusive, estava fazendo sua primeira viagem internacional. Ver os olhos dela brilhando com cada nova descoberta foi emocionante. Tudo era novidade, e poder compartilhar isso com elas foi muito especial.
Turistamos bastante nesses dias. Conhecemos San Telmo, a Recoleta, o famoso bairro La Boca com suas casas coloridas e atmosfera vibrante. Visitamos a Floralis Genérica, a icônica escultura em forma de flor de metal. Fizemos o passeio de ônibus turístico pela cidade, explorando os principais pontos e mergulhando na história e na cultura argentina. Assistimos a um show de tango, vivemos a energia das ruas, provamos a tradicional parrilla e caminhamos lado a lado em meio à arquitetura marcante da capital, com seus ares europeus, que misturam estilos neoclássico, art déco e barroco espanhol.
E em cada esquina, um detalhe chamava atenção: os argentinos, com seus mates na mão, compartilhando tempo, conversas e vínculos. É um povo profundamente ligado às suas tradições, e foi bonito observar isso.
Entre as refeições marcantes, a parrilla argentina merece destaque. Mais do que o sabor da carne e o ambiente aconchegante, era sobre estarmos todos juntos. Saborear aquele momento, com pessoas que fazem parte da nossa história, deu ainda mais sentido àquela parada. Foi um fim de semana que aqueceu o coração e reforçou o quanto a estrada pode ser generosa.
Receber as mães ali, naquele contexto, nos fez enxergar nossa jornada com outros olhos. Percebemos como é importante viver cada momento com presença. Mostrar o nosso estilo de vida para elas também nos mostrou o quanto já tínhamos mudado em tão pouco tempo. Foram dias de muita conversa, de partilhas, de risos e de amor. Um capítulo inesquecível da nossa viagem, que ficará para sempre gravado na nossa memória e no coração delas também.
No próximo capítulo, antes de deixarmos a capital argentina, ainda passamos por uma visita ao mecânico para garantir que o Wilson estivesse pronto para o próximo desafio. A partir dali, começaria nossa saga rumo ao ponto mais extremo do país: Ushuaia, o fim do mundo.











