Artista vive do público. Mas o que fazer quando bares, restaurantes e casas de espetáculos dos mais diversos tipos estão com acesso restrito? Não importa se o palco é vip ou ao ar livre, pequeno ou grande, sem espectadores, não há show, cinema, sinfonia ou roda de pagode. E se não tem música, feira, oficina, dança ou interpretação – seja cômica ou dramática, quem faz cultura não tem como sobreviver.
A pandemia do coronavírus preocupa de forma redobrada os profissionais da arte que vivem e trabalham em cidades periféricas como Viamão. Se habitualmente a oferta cultural já é escassa nas localidades mais distantes da Capital, neste momento, as oportunidades estão reduzidas praticamente a zero.
Iarlen Machado de Lima, o Emici Tomzão, viu a agenda de shows desaparecer. É pelas redes sociais que ele tenta se manter financeiramente.
– Tenho usado este tempo para gravar, fazer lives, o público está gostando, mas não é a mesma coisa. Cada dia é um passo novo, as lives me ajudam a não ficar parado, um músico ajudando o outro – diz.
O presidente do Conselho Municipal de Cultura lembra que arte e cultura são conceitos que abrangem inúmeros segmentos e atividades. E que a maior parte dos trabalhadores do setor são informais:
– Vai muito além de música e shows. Temos artesãos, indígenas, quilombolas, artistas de rua, contadores de histórias. Todos produzem arte, vivem da arte e foram afetados pela crise – destaca Celso Broda.
Broda, que assumiu o conselho há quatro meses, cita a falta de políticas públicas permanentes por parte da Prefeitura para a cultura local como um agravante à pandemia.
– Essas pessoas vivem aqui, mas trabalham em outras cidades porque não há oportunidades em Viamão. Para se ter uma ideia, não há o levantamento por parte da secretaria da Cultura de quantos produtores culturais existem em nossa cidade, estamos trabalhando para identificar esse pessoal e saber como foram impactados. Certo é que eles foram os primeiros a parar e serão os últimos a voltar à rotina – revela o presidente.
O ator Igor Ramos, que também é professor e produtor cultural, contra que os espetáculos grupo teatral que integra foram canceladas. Nesse período de isolamento, dá aulas de teatro on-line.
– Tive uma leve redução de alunos em relação ás aulas presenciais, mas é a maneira que estou me mantendo no momento, porém, sem as produções, apresentações e circulações a a renda diminuiu drasticamente. Eu ainda tenho essa possibilidade, mas tenho muitos colegas que não têm essa alternativa, esses estão passando necessidades.
Ramos também lamenta a lentidão da gestão municipal.
– A Prefeitura, tardiamente, esta fazendo um levantamento pra doar cestas básicas, mas nem cadastro atualizado (dos profissionais da cultura) tinha. Esta ajuda pra quem de fato necessita é muito bem-vinda, mas fica em aberto, como pra muitos trabalhadores informais, outras contas, como água, luz e telefone.
Auxílio emergencial
O governo federal pretende liberar R$ 3 bilhões em auxílio financeiro a artistas e estabelecimentos culturais durante a pandemia. Os recursos serão repassados a estados, Distrito Federal e municípios, que devem aplicá-los em renda emergencial para os trabalhadores do setor, subsídios para manutenção dos espaços culturais e instrumentos como editais e prêmios. A lei, batizada de Aldir Blanc, foi sancionada nesta terça-feira (30), e a promessa é distribuir os recursos em 15 dias.
Entenda:
O texto prevê quatro formas de aplicação do dinheiro: renda para trabalhadores da cultura, subsídio para manutenção de espaços culturais, fomento a projetos e linhas de crédito.
Para os trabalhadores da cultura, devem ser pagas três parcelas de R$ 600 a título de auxílio emergencial, que poderá ser prorrogado pelo mesmo prazo do auxílio do governo federal a trabalhadores informais e de baixa renda. O recebimento está restrito a dois membros de uma mesma família, e mães solteiras terão direito a duas cotas.
Para receber, os trabalhadores devem comprovar atuação no setor cultural nos últimos dois anos, cumprir critérios de renda familiar máxima, não ter vínculo formal de emprego e não ter recebido o auxílio emergencial federal. O auxílio também não será concedido a quem receber benefícios previdenciário ou assistenciais, seguro-desemprego ou valores de programas de transferência de renda federal, com exceção do Bolsa Família.
Links para cadastro
Para saber como fazer o cadastro da secretaria municipal da Cultura, acesse:
Preencha os dados abaixo de acordo com o seu setor:
ARTISTAS – bit.ly/culturaartistas
ESPAÇO CULTURAL – bit.ly/culturaespaço
GRUPO/COLETIVO – bit.ly/culturacoletivo