Eu levei um tempo para digerir todas as poucas cidades que eu conheci até agora. Cada cidade tem um gosto diferente: Nürnberg tem gosto de sorvete de chocolate. Bamberg tem gosto de cerveja artesanal. Herzogenaurach tem gosto de torta de maçã. Munique tem gosto de bolo de batata, suor e cerveja. Fürth tem gosto de batata frita. Erlangen tem gosto da minha comida. E assim vai. Cada uma eu saboreio lentamente. O estômago e a cabeça ainda não reconhecem o gosto da Europa.
Cidade de Nürnberg. Foto: Arquivo Pessoal.
Cidade de Bamberg, Foto: Arquivo Pessoal.
A jornalista Lua Kliar durante a Oktoberfest, em Munique. Foto: Arquivo Pessoal.
Berlin não tem gosto. Berlin é um pedaço de carne engolido inteiro por um vegetariano.
Berlin deu dor de estômago.
Berlin é a parte.
Berlin é noite e dia.
Berlin é droga pra todos os lugares.
Berlin é povo com fome e com frio.
Trem lotado e motorista solitário no carro com banco aquecido ouvindo um som misógino com batida forte.
Berlin é a história contada em silêncio. Berlin é a imagem da guerra. Berlin é arte. Berlin é caos. Berlin é gente de tudo quanto é canto. Berlin é lar de refugiados. Berlin tem a dor e o sangue saindo pelos bueiros decorados. Berlin vende a dor. Berlin é turismo de sofrimento. Berlin é grafite. Berlin é grife. Berlin é a cidade que eu senti meus pés querendo criar raiz. Berlin pulsa como meu coração. Berlin não da pra mastigar, mas da pra engolir.
Portão de Brandenburg, onde aconteceu o grande ato da queda do muro de Berlin. Foto: Arquivo Pessoal.
Torre de TV, símbolo de Berlin, pode ser vista de qualquer lugar da cidade. Foto: Arquivo pessoal.
Foto: Arquivo pessoal.