Marido virtual

Era 1970. No jornal em que eu trabalhava estava agendada uma reunião de pauta. O novo Diretor de Redação recém chegado, metia medo nos repórteres. Por conta de seu surrealismo jornalístico. E também por sua arrogância.Todos o temiam. E literalmente tremiam com a figura dele.

Sei lá, era um homem que instigava. Distribuindo os temas com as sugestões de reportagens, me olhando com a cara mais sisuda do mundo, sentenciou: "A Ana vai fazer uma matéria futurística. Me traga uma matéria respondendo a questão: Como será o mundo daqui a quarenta anos". Boquiaberta aceitei a tarefa. Mesmo porque se não fizesse,seria demitida.

Saí as ruas, fui às Universidades,conversei com estudiosos.Com muita gente. E o resultado não foi nada animador. Naquela época não existia computadores,nem celulares, nem google. O futuro era completamente incerto.Principalmente com o poder vigente.

 O Brasil vivia a ditadura militar. Acho que todos estavam mais preocupados era com a política. Com as perseguições e prisões dos mais engajados. Com o terror instalado e a censura na Imprensa. E eu só queria cumprir meu texto. Levantar dados.Escrever. Mas esta pauta mexia com meus neurônios.

As informações que eu conseguia eram vagas. Não tinham novidades de impacto.Afinal, escrevi. Por conta de minha imaginação apelei para a ficção.Já nem era mais jornalismo,era literatura. O Jornal com a publicação da dita reportagem hoje, está guardado no Museu Hipólito José da Costa. Talvez microfilmado. Talvez, em algum site. Testemunha do meu ingresso no Jornalismo. E da apuração de fatos que naquele momento, só poderiam ser de ficção.

Passados cinquenta anos, fico estupefata com o ponto que chegou o desenvolvimento tecnológico. Inimaginável para as pessoas dos anos 70. Hoje uma moça de Belo Horizonte, minha conhecida no Twitter me deixou perplexa. Falou que tinha se apaixonado, namorado e casado pela Internet. Com marido virtual, sexo virtual e tudo o mais de um casamento.

Se meu chefe inovador estivesse vivo hoje e,ouvisse falar deste assunto, por certo se assombraria. E eu, com o tema "Marido Virtual", poderia com certeza, ganhar un prêmio de ineditismo no jornalismo. Internauta que sou,vejo muitas possibilidades nesta era de aldeia global.

Entre elas, estudar em Universidades pelo mundo,pesquisar e se divertir. Ouvir músicas,vídeos,assistir filmes e ler jornais. Mas casar pela Internet é demais. Faria meu ex-chefe de Redação, ter um ataque do coração. "Bota revolução de costumes nisto".

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