Melancolia no final do veraneio

Quando chega os primeiros dias de março é hora de finalizar o veraneio gaúcho. Muitos aposentados ainda buscam o “iodo” encontrado na essência do mar após fevereiro. Ficam mais um pouco na praia recordando tempos passados. São os velhinhos do nosso litoral.

Para quem é jovem chega a hora de voltar ao trabalho e ao estudo. Para o pessoal da meia idade, hora de rememorar.

Pois na praia, em dias ensolarados, todos parecem semelhantes. Suas estórias também. O casal e seus dois filhos brincam de fabricar castelos na parte da areia mole. Mulheres se emancipam. E muitas reunem amigas à beira mar para rodadas e mais rodadas de cerveja e caipirinha. Crianças levam as brincadeiras praianas às últimas consequências. São jogos de toda espécie. Bolas rolam para lá e para cá. Às vezes incomodam os mais velhos que se estiram em suas famosas cadeirinhas bem próximas das ondas. E acabam quase nocauteados por chutes mal dirigidos.

Os barcos sempre aparecem no horizonte, ampliando a imaginação de quem tem boa visão. E os enxerga. O que fazem? Talvez sejam destes pescadores nada ecológicos. Talvez sejam navegadores. Talvez apenas façam turismo na orla gaúcha. Nosso litoral sempre chama atenção. É bravio, como nossa gente. É violento como expressão da natureza. E os guris gaúchos que fazem surf, necessitam ser destemidos. Pois o mar é bem  traiçoeiro. Ao contrário, por exemplo, de Jurerê em Santa Catarina com suas ondinhas calmas. Na plenitude de um Estado irmão.

Próximo à principal avenida da praia,um carro pára. Desce um novo veranista. É argentino. Veste bermuda branca de estrelinhas,sapatos mocassin e camiseta com a estampa do Maradona.Arrasta um portunhol. Todos o entendem.

Não tinha semblante de Argentino, mas era Argentino. Nem pedante nem mostrando muita alegria, seguia a passos largos para o Hotel onde se instalou confortavelmente. O apartamento onde estava tinha uma imensa sacada com vista para o mar. O mar gaúcho. Foram três dias de uma estada instigante. Sua esposa e as duas filhas pequenas eram companheiras inseparáveis na tourné pelo Rio Grande do Sul.

Após o café, sua esposa enrolada numa bandeira brasileira estilo canga, seguiu para a praia com as meninas. Uma das “chicas” tinha sido presenteada com um cachorrinho de pelagem preta e a outra menina ganhou um par de patins. Tudo adquirido em solo gaúcho. Tinham um certo orgulho de compararem-se aos brasileiros. Talvez pela alegria que, para quem não conhece o Brasil, se expressa nas pessoas e nos programas de televisão.

Mas a hora mais melancólica do verão gaúcho é quando todos resolvem ao mesmo tempo, sumir. Viajar para suas cidades de origem. O maior número segue para Porto Alegre. Mas tem o pessoal da serra e da campanha. E neste ano de 2017, também os Argentinos seguindo para Missiones e outras cidades paralelas. Os mais abastados continuam as férias em Bariloche para contrabalanciar: muito calor, depois muito frio. E assim, num portunhol já conhecido dos gaúchos vão deixando “soledad”. Alguns são engraçados, outros são sisudos. Mas todos adoram o Brasil.

A maioria das praias do litoral gaúcho perde um pouco da graça quando todos vão embora.Uma sensação de solidão toma conta dos lugares. É quando se encerra o horário de verão. Alguns nativos gostam da normalidade que, volta depois de março, com esta debandada. A multidão some. Há um vazio existencial. Talvez só compreensivel para quem se dedica à literatura ou momentaneamente à poesia. Neste caso é necessário calma, silencio e solidão. Certa feita, o escritor gaúcho Gilberto Noll, se isolou na Praia do Pinhal para escrever um de seus livros. Aquela paz, do pós-março, foi ótima para sua criação. Para os mortais só saudade: dos dias de sol, sorvetes geladinhos, restaurantes exóticos, cervejas e, novas amizades. Que sempre surgem durante as férias de verão, no instigante solo gaúcho. 

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