O colorado gremista

Há alguns meses a dupla GreNal dividia o nervosismo e a ansiedade pelos prováveis confrontos que ocorreriam nas Copas do Brasil e Libertadores da América. A grande possibilidade dos times se enfrentarem nas fases avançadas das competições, aliada ao bom momento que viviam, fazia aflorar os sentimentos de respeito e tensão entre torcedores.

Mas o Inter foi eliminado da Libertadores e os gremistas comemoraram. Depois o Grêmio saiu da Copa do Brasil e foi a vez da torcida colorada celebrar. Agora com a derrota de ambas as equipes nas duas competições, todos ficaram felizes. E tristes ao mesmo tempo. Pois eu não vejo motivos para me alegrar. Queria ver o Rio Grande do Sul sendo representado nos cenários nacional e internacional por duas das suas maiores entidades. Seria o nosso estado mostrando que é capaz de mobilizar milhões, se organizar e planjear, pensando grande em busca de um objetivo. Mas fomos derrotados.

E não há nada de errado nisso. Do outro lado havia adversários com os mesmos interesses, que merecem o devido respeito e agora os parabéns. Para nós gaúchos sobrou o amargor das derrotas e o pior, o deboche dos conterrâneos com intermináveis piadas sobre nosso fracasso. Isso me fez pensar e cheguei a uma conclusão que vou compartilhar agora. Uma revelação. Nunca mais vou secar o adversário.

– Quê?! Eu nunca vou torcer para o rival! – já me disseram.

Até entendo isso e confesso que em parte também sou assim, mas muito por causa dos anos de influência que sofri. Na verdade o que eu penso mesmo é que colorados e gremistas só torcem pela derrota um do outro porque não querem ser alvo de deboche. Como eu não me abalo com piadas sobre futebol, não tenho nenhum motivo para desejar que alguém perca. Além disso, metade dos meus melhores amigos são torcedores do adversário e todos sabemos a alegria que é ver nosso time ser campeão, bem como a tristeza quando perde. Depois dessa análise toda, penso que celebrar a derrota do outro é comemorar a tristeza de grande parte dos meus conhecidos.

Quando dividi esse raciocínio com um amigo, ele comentou que não entendia como eu poderia pensar assim. Que essa ideia era a mesma coisa que aceitar que “eles” debochassem da gente. Mas penso que se não os considerarmos nossos inimigos, isso não nos afeta. Pedi para ele se imaginar como sendo apenas torcedor do Inter e eles sendo só torcedores do Grêmio, sem rivalidade. Pedi para ele pensar que antes da gente ser colorado ou gremista, somos gaúchos.

Imagina que incrível seria se todos celebrássemos o fato de que na nossa capital existem dois times que ganharam, na época, das maiores equipes da Europa. Qual outra cidade tem dois campeões mundiais, cada um com seu estádio privado com nível e porte para receber competições e até shows internacionais? Meu amigo coçou a cabeça e falou que tudo isso não passava de uma grande bobagem.

Entendo que existam muitos que discordem de mim. E sei que a maioria vai manter essa opinião, mas lembrem-se que dez ou vinte anos atrás era inimaginável um GreNal com torcida mista. Gremistas e colorados juntos assistindo ao jogo não existia. Já ouvi relatos de conhecidos – dos quais a vida fez o favor de me afastar – que foram no clássico e por causa de um tumulto começaram a atirar pedras na torcida adversária. Eram amigos jogando pedras um no outro sem saber. Ridículo demais.

Hoje a torcida mista é uma realidade. Mais que isso: é um sucesso! Torcedores da dupla celebram quando podem assistir aos jogos no estádio ao lado dos seus entes queridos em paz. Sei que parece exagerado imaginar um futuro onde colorados e gremistas comemorem juntos suas conquistas, ainda mais diante da grande rivalidade que existe, mas não custa crer nessa possibilidade. Melhor acreditar nisso do que ficar torcendo para alguém perder.

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