É estranho me sentir tão apta para dissertar sobre solidão. E em tudo em que me encontro, sempre me encontro só. É profundo e ardente sentir-se como um navegante solitário, tão cedo, de modo tão imediato.
As coisas acontecem de maneira vagarosa, belezas que se estendem sob nossos olhos e somos incapazes de não enxergar e de repente, é isso o que chamamos de vida. A vida se mostra tão magnífica, e tão inexplicavelmente só ao mesmo tempo.
As pessoas que conhecemos, os corpos com quem dormimos e toda a palavra que trocamos com outro alguém. Nesse momento, pensando estar acompanhado, pensando estar com alguém ao lado. Estamos sempre sós, com outro alguém que flutua sob a nossa solidão, visitando-nos vez ou outra, dizendo: Olá!
Estamos sempre sós, com nossos pensamentos, com nossas escolhas, com nossos próprios demônios. E isso pode ser bom, isso pode ser ruim, pode ser nada ou pode ser tudo. Todas as raízes instaladas em nós mesmos, inevitáveis confrontos e necessárias curas, relações imprescindíveis para formar quem somos e no final das contas, a sós. Sempre a sós com nossas palavras, com todas as criações e com nossa própria mente.
E, por ventura, vamos encontrar alguém que nos entenda perfeitamente, alguém que decifre os nossos mistérios e ainda assim: nos sentiremos seres faltantes, impróprios e vulgares. Próprios para nós mesmos, com cada defeito que é nosso, engolindo-nos de modo amargo ou doce, sem escolha pois afinal, somos o bendito fruto de nós mesmos.