Balançou a cabeça cheio de lembranças. E esperanças. Estava dentro do ônibus subindo a Serra.Pensava: onde andará ela nesta quarta-feira de chuva e neblina? A estrada com aquele clima lembrava Amsterdan, embora estivesse no Rio Grande do Sul. Em imaginação a procurava. Aqueles olhos de seda misturavam-se no ar da imensidão do Vale do Quilombo. Estaria com certeza, em alguma cafeteria.Deliciando-se com chocolate quente,após a saída da livraria.
Ela sempre lia filosofia. Tinha título universitário, mas no momento estava desempregada.Ele não lia muito.Só quando o assunto lhe interessava. Como a flora e a fauna brasileira.Numa outra vez foi à Caxias do Sul e adorou a promoção da Prefeitura. Um caminhão enorme fornecia gratuitamente mudas de árvores frutíferas à população. Ele vivia elogiando isto.Gesticulando dizia: por que as demais Prefeituras não fazem o mesmo?
À noitinha,lá estava ela sentada no banco da rodoviária aguardando a volta dele.O clima gélido e misterioso,se transformou numa neblina intensa. As pessoas sumiam na névoa e os carros e ônibus também. Os faróis apareciam em focos de luz e não dava para entender, como dirigir em lugares assim.
Não existia nenhum celular em sua bolsa. Ela estava à mais de 24 horas sem saber notícias dele.Lá vinha o ônibus,saíndo do meio da cerração, num compasso lento, o que lhe causava muita aflição. Suas mãos e pés estavam congelando.
Você conhece bem o clima gaúcho? Perguntou uma mulher que também aguardava a chegada do ônibus vindo de Caxias. O termômetro marcava dois graus negativos. A moça respondeu que era do Rio de Janeiro.Estava de passagem pelo Sul. Mas de antemão concordou, que aqui fazia muito frio. Trocaram informação por alguns breves minutos. Enalteceram os restaurantes e as lojas de produtos de lã e couro.
O namorado da gaúcha fora à Caxias contatar uma empresa de cosméticos. Queria colocar uma franquia em Canela. Ambos planejavam, após o casamento, se estabelecer por ali. A carioca era professora. E contou estar encantada de conhecer o Sul. Principalmente, a culinária. Já havia experimentado o arroz de charque e o chimarrão.Dos quais, ficou fã.
O ônibus finalmente chegou.O motorista pacientemente estacionou no box 23. Demorou devido a prudência que se deve ter, dirigindo numa estrada com pouca visibilidade.Saía uma fumaça branca do cano de descarga do ônibus. As janelinhas estavam todas embaçadas por causa do frio.
Um a um os passageiros foram descendo. A maioria residia em Canela e rumavam para suas casas.Neste momento ela sentiu-se como uma visitante. Não tinha certeza de que moraria ali. Ela e o namorado precisavam trabalhar para se sustentarem. Com boina preta e casacao comprido ele desceu do ônibus. Tinha semblante alegre. Ela entendeu. O contato tinha sido positivo. Abraçaram-se longamente fazendo seus corpos esquentarem.
Depois de alguns meses estabeleceram-se na Serra.Montaram um pequeno negócio num ponto central junto à Igreja Matriz. Seu negócio prosperava. Num brinde saudaram o sucesso e o dia.Era dia de Santo Antônio. Era 13 de junho. Dia dos Namorados.