Tem dias que me sinto comum, em que nada me invade. Tem dias que me sinto vazia, que nenhuma cor me pinta. Tem dias que o cotidiano me engole, e me sinto como parte de uma engrenagem, tem dias que não enxergo o meu destaque, a minha singularidade. Nesses dias eu penso: o que posso entregar para o mundo hoje? No entanto, nada me sai.
Porém, ao enxergar um pássaro voar pela janela do escritório, contemplar o sol no final da tarde, observar as ondas do mar em sua infinita inconstância, sinto que a beleza renasce dentro de mim. Então, me vejo no espelho e consigo me ver novamente.
Tem dias que passam despercebidos, a criatividade castrada, uma música sem graça, uma batida repetitiva. Em momentos como esses, eu lembro de uma saudade que matei, um abraço bem dado, o amor manifesto. Em dias como esses, me esforço para extrair da vida essas sutilezas tão presentes e tão pouco investigadas. Em dias como esses, eu busco o significado. E ele vem através de alguma coisa banal, que me motiva a continuar.
Tem dias que desejo pintar um quadro, mas tenho medo de comprar, tenho medo de não saber o que fazer com ele. Tem dias que desejo escrever em um papel, mas tenho medo de não saber descrever esses dias, esses sentimentos, essas interrogações. E nesses dias, eu procuro o significado, a motivação, eu procuro esse amor que tanto se fala por aí, esse prazer em estar e ser.
Em dias assim, coloco uma música que me diz coisas fantásticas, utópicas, poéticas. Em dias assim, eu visito este mundo que é tão meu, que possui singularidade, é incomum e se transforma.
Então, quando o cotidiano se mostra pouco convidativo a olho nu, busque beleza por trás das cortinas. Busque dentro de si razões para a autenticidade, o prazer e a vida.