Putin, o agressor

Vladimir Putin, o autocrata russo

O DV reproduz o artigo do jornalista Juremir Machado da Silva, publicado em sua coluna no Matinal Jornalismo

O ataque russo era certo.

A imprensa internacional noticia a invasão sem papas na língua.

Mas há quem continue apegado a um bordão muito amado e popular: se é ruim para os Estados Unidos, então só pode ser bom.

Está dentro.

Há razões de sobre para odiar os Estados Unidos e sua política internacional. Só que isso não garante que esteja sempre errado.

Teve profeta da geopolítica dizendo que era só histeria ocidental.

O argumento dos favoráveis à Rússia remete ao macho ciumento: a Ucrânia, por ter sido dominada pela Rússia no passado, mesmo tendo se tornado nação soberana, não poderia escolher seus aliados sem autorização do vizinho poderoso.  Uma soberania tutelada.

Lei das gangues. A culpa dessa traição ao passado com a Rússia seria da OTAN – que poderia ser extinta – por seduzir a Ucrânia.

O mundo ocidental diz que a Rússia violou o direito internacional e qualquer pessoa pode entender algo dos argumentos apresentados.

Há quem, contudo, sustente o contrário, como se fosse a única verdade sofisticada.

Afinal, a Ucrânia está na zona de influência russa. O inusitado acontece para lembrar que a história nunca entra em greve. O fato de que movimentos contrários aos russos na Ucrânia não sejam flor que se cheire não justifica um ataque. Entre os separatistas também há participação de extrema-direita. A OTAN, no entender de muitos especialistas, é defensiva, não um instrumento de ataque.

A democracia ocidental continua sendo um sistema péssimo, mas ainda não se apresentou outro melhor, pelo menos que a informação tenha circulado e convencido. Churchill resumiu isso em frase célebre.

A paz precária construída depois da Segunda Guerra Mundial também é cheia de defeitos. A Nova Ordem Mundial de Putin não parece melhor.

Sylvie Kaufmann, ex-correspondente do jornal francês Le Monde em Moscou e Washington, sintetizou a situação para leitores do veículo: “A decisão foi tomada pelo presidente Putin. Existe uma estrutura legal validada pelo Conselho da Federação, mas é de fato o Kremlin que toma a decisão. A oposição interna e os espaços de liberdade na Rússia foram reduzidos ano a ano sob o reinado de Vladimir Putin, sendo o exemplo mais marcante o envenenamento e depois a prisão de Alexei Navalny”.

Segundo ela, a Ucrânia pode não ser a única vítima: “A Moldávia também está em uma posição desconfortável, com um governo e presidente pró-europeus e parte de seu território, a Transnístria, ocupada pelos russos. Como a Ucrânia e a Geórgia, não é membro da OTAN e, portanto, a OTAN não é obrigada a intervir em caso de agressão russa”.

O que quer o autocrata russo? Para Sylvie Kauffmann, “claramente, Vladimir Putin está tentando provocar uma mudança de regime em Kiev. Ele quer derrubar o presidente Volodymyr Zelensky e acabar com o regime democrático. Há duas semanas, a imprensa britânica noticiou um plano secreto russo segundo o qual Moscou planejava instalar no poder em Kiev, após uma intervenção militar, um fantoche, na pessoa de um deputado de um partido pró-russo. Em Kiev, essa hipótese não foi levada muito a sério, porque esse personagem não tinha crédito”.

Os ucranianos vão se submeter? “Não, a população ucraniana não aceitaria, seria necessário um nível enorme de repressão. Já se levantou duas vezes desde a independência, em 1991, pode recomeçar”.

Diante de uma invasão total, porém, o que poderão fazer?

O centenário Edgar Morin, que resistiu à ocupação nazista da França, tuitou com a razão de sempre: “A condenação de Putin não deve nos impedir de entender por meio de quais jogos de interações e retroações chegamos ao grau de radicalização que produz desastres”.

Compreender como se chegou lá, na lógica complexa do velho mestre, não quer dizer, porém, que não se deva condenar Putin.

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