Rever Porto Alegre

Foto: Marcos Adami

No ebuliço da Rua da Praia me perdi em lembranças. Não raro, lágrimas e alegrias. Muitas alegrias! A moça apressada e o rapaz de mente brilhante cruzam à minha frente. Já nem sei se estou no passado ou no presente. Mas em todo caso, estou na minha terra: Porto Alegre. Uma cidade prá lá de gaúcha. Uma cidade de beijos molhados, de prisões amorosas, comida boa, chimarrão e guris lindos. O que mais devo querer da vida? Do que ter nascido e vivido numa cidade assim. De encantamentos.

Foi nos altos de Teresópolis que plantei um jardim de ervas aromáticas. Que me deram a certeza de que a natureza é luz e viagem. E foi. Depois, o lotação me levava ao centro. No mercado público comprei miçangas coloridas e muito manjericão para uns banhos energéticos. Que faziam meu corpo ter, na aura, brilho de uma fada. As ervas retiravam a energia do mal e colocavam, em mim, energia do amor. Que luz! Que maravilha!

Ainda pequena, por volta de quatro aninhos, circulava pela travessa dos Açorianos com meu pai, gaúcho de São Jerônimo. Meu pai tinha amor por Porto Alegre. Pegava minha mão e circulávamos.  E eu aprendi a amar Porto Alegre com ele. Hoje tudo é mais potencializado. O mercado público, o cais, a orla, os estádios do Grêmio e do Inter, os teatros, a Redenção, os bares e os restaurantes. Ah, o Barranco… Quantos churras, quantas alegrias em meio ao ar livre de sua estrutura externa.

Um dia levei um pretenso namorado de São Paulo até ao Barranco. Meu irmão e sua noiva foram juntos. O paulista amou aquilo tudo e, por certo, levou para São Paulo uma bela lembrança. Da nossa hospitalidade, da nossa família e também da nossa alegria de viver. Tia Léa, por outro lado, minha madrinha, costumava me levar na Redenção aos domingos para passear e dar pipocas para os patos do laguinho. Eu sempre fui feliz com minha tia. Ela era do bem. Rezava muito, era muito séria e só teve um homem em toda sua vida. Meu tio Dionísio, que ficou com ela muitos anos. Era seu grande amor.

Hoje tenho novos amigos. Minhas primas de Porto Alegre e meu tio Pedrinho, que foi se abandar lá pela Lomba do Pinheiro. Ele tem o cabelo branquinho, 80 anos, e se surpreende com a vida a cada dia. É místico e fotógrafo. Uma espécie de curandeiro. Amigo de toda vizinhança. Não guarda mágoas de ninguém. Até de um marginal que um dia o assaltou e levou com ele seu objeto de trabalho: uma antiga e cara Nikon. Ele era fotógrafo alternativo. Trabalhava com aquela máquina para seu próprio sustento. Perdoou o bandido e o tempo lhe deu outra máquina, novinha. Que ele pagou em suaves mensalidades numa loja da cidade.

Em Porto Alegre nasci. Fiz Faculdade de Jornalismo na PUC da Avenida Ipiranga. Conheci meu grande amor, Neysinho. Amei. E tive uma filha, Ana Paula. Vivi na adolescência no bairro Passo d´Areia. E, tal como Elis Regina, morei ainda no IAPI. Numa avenida chamada Plínio Brasil Milano. Grandes lembranças! Agora moro no mar, onde recordo um pouco da minha vida. Mas quando vou passear em Porto Alegre, minha memória grita. Vontade de ficar!  Contrariando o pessoal que insiste em ver os atuais defeitos da minha ”mui leal e valorosa”. Porto Alegre é demais! Já dizia Fogaça em sua eterna composição, tão bem interpretada por sua encantadora esposa, Isabela.

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