“O 3-5-2 é coisa de técnico retranqueiro”. Nos anos 90, a frase era uma das principais premissas das mesas de bar e até mesmo para alguns integrantes da crônica esportiva nacional. O insucesso do time dirigido por Sebastião Lazaroni na Copa da Itália foi o “pontapé” para o preconceito.
Porém, outros fatores foram crucias para a perpetuação da máxima. Embora fôssemos uma fábrica destacada em laterais ofensivos, poucos treinadores conseguiam extrair o melhor do sistema de jogo. Na prática, os times entravam em campo realmente “engessados”, com laterais presos e dois volantes à frente da área.
Em 2001, porém, Adenor Bachi quebrou tal paradigma com o seu Grêmio equilibrado e entusiasta. A conquista da Copa do Brasil, com direito a um acachapante 3 a 1 contra o Corinthians, em São Paulo, na finalíssima (após frustrante 2 x 2 no Olímpico), trouxe rótulos alvissareiros ao sistema com três centrais.
Anderson Lima e Rubens Cardoso espetados. Tinga num híbrido de meia-direita com a posse e segundo volante na ação defensiva. Anderson Polga ou Roger com qualidade na saída. Mauro Galvão dando aula como líbero, aos 41 anos. Eduardo Costa ou Polga na cabeça de área, mas com qualidade na transição. Danrlei salvaguardando a meta…
A mecânica era tão distinta que serviu de inspiração para o Penta liderado por outro símbolo gremista na casamata: Luís Felipe Scolari. Kléberson ingressou na vaga de Juninho Paulista e se tornou o principal fiador do sistema, repetindo os movimentos de Paulo César Tinga.
Ao contrário do que ocorre atualmente na Europa, o time de Tite não alinhava os alas com os zagueiros na fase defensiva – não havia migração para o 5-3-2. Desta feita, a equipe quase sempre tinha superioridade numérica no setor vital de jogo: a meia-cancha.
Essencial no equilíbrio para o Tetra, Zinho era o centro técnico da equipe. Camisa 11 às costas, braçadeira de capitão e perna esquerda ditando o ritmo. Passes, assistências e gols. Marcelinho Paraíba era o nome de grife do ataque. Outro canhoto. Cabelo descolorido. Movimentos típicos de um falso 9, criando terreno para os ingressos de Rodrigo Mendes ou Luís Mário ou Fábio Baiano ou Warley.
O Grêmio de Tite é a prova cabal de que não existe sistema de jogo fadado ao fracasso ou garantidor de sucesso. Tudo depende dos atletas disponíveis e, claro, da capacidade do treinador. O 3-5-2 em azul, preto e branco serviu de legado ao Penta e também à modernidade. As seleções da Bélgica e da Alemanha são exemplos atuais, com variação para o 3-4-3. A mecânica é a atual febre mundial, sobretudo, nas ligas da Europa no "pós-pandemia".
Voltando à aldeia, o tricolor de Tite foi o melhor Grêmio que este singelo jornalista e comentarista de Facebook aqui viu em atuação. Pelo menos até hoje, junho de 2021. Sem dúvidas, a Copa do Brasil foi pouco…
Um brinde ao futebol além do resultado que gera resultado. Faz história. Provoca nostalgia. Serve de legado e inspiração. Eterniza-se. Mesmo no ‘malfadado’ 3-5-2.